No ano 69 da Era Cristã, o Império Romano viveu uma crise em seu comando após a morte de Nero, que foi sucedido pelas rápidas e tumultuadas presenças de Galba, Otho e Vitélio no poder até, finalmente, Vespasiano ascender e estabilizar a situação. O contexto confuso de Roma proporcionou uma oportunidade de reação aguardada por rebeldes entre os batavos, tibo germânica estabelecida no delta do rio Reno, numa região que corresponde ao atual território dos Países Baixos.
Os batavos mantinham uma relação complicada com os romanos na ocasião, pois foram aliados e recebiam isenções de tributos exigidos pelo domínio de Roma sobre região da Batávia em troca do fornecimento de soldados para a composição das forças auxiliares do império. Os guerreiros batavos eram valorizados por suas habilidades e treinamento e alguns deles chegaram a compor divisões de elite do exército imperial, mas o desgaste na relação entre romanos e batavos começou a se tornar um sério problema com a intensificação dos recrutamentos forçados e do tratamento abusivo imposto aos soldados batavos.
Com a crescente insatisfação dos batavos, despontou a liderança de Júlio Civilis (Gaius Julius Civilis), um guerreiro batavo que adotou um nome e a condição de cidadão romano, tendo lutado na campanha do imperador Cláudio na Britânia e conquistado respeito como oficial da força auxiliar do exército imperial. Civilis foi acusado de participação num ato de desobediência, o que resultou em sua prisão e execução de seu irmão, também integrante da oficialidade batava sob o serviço romano. Sua libertação durante o curto governo de Galba não aliviou o ressentimento e revolta contra Roma, possibilitando sua atuação na organização de uma rebelião de seu povo inspirada no significativo antecedente da Batalha da Floresta de Teutoburgo (9 d.C.), quando tribos germânicas conseguiram impor uma devastadora vitória sobre os romanos, fato que o imperador Augusto reconheceu um significativo fracasso.
Civilis sabia que precisaria constituir uma aliança com outras tribos germânicas, então buscou o apoio dos Bructeri, que habitavam a Germânia Inferior, e entre eles encontrou uma parceria com a líder mística Veleda. Figura altamente respeitada por seu povo e entre outras tribos, ela era uma seeresse, profetisa sagrada que reunia liderança espiritual, política e diplomática. A autoridade de Veleda era reforçada pelo fato de que muitos viam nela a representação de uma divindade viva entre pessoas comuns e sua previsão de sucesso dos batavos foi o suficiente para aglutinar apoios de variados grupos germânicos que aderiram à empreitava contra os romanos. Ela articulou as alianças e mediou as divergências entre as tribos, atuando como uma líder fundamental. Para os romanos, seeresses como Veleda eram sacerdotisas frequentemente vistas como ameaçadoras, pois o poder que exerciam contrastava com o papel das mulheres em Roma. Reconhecendo sua influência, os romanos tentaram fazer Veleda mudar de lado, mas o comandante Munius Lupercus, que foi destacado para negociar com ela morreu em condições misteriosas antes de falar com a mística, fato que aumentou a perspectiva de que a mulher era realmente dotada de poderes sobrenaturais.
A Revolta dos Batavos reuniu as tribos lideradas militarmente por Civilis e espiritualmente por Veleda. Conhecedor das táticas romanas, Civilis conseguiu comandar vitórias dos rebeldes no início da ação, aniquilando os oponentes em combates como a captura de Castra Vetera, fortaleza localizada da área da atual cidade alemã de Xanten. Estas vitórias pareciam confirmar a profecia de Veleda, mas a sorte dos bárbaros mudou quando o imperador Vespasiano (Titus Flavius Vespasianus) reestabeleceu a ordem institucional no Império Romano e com isso reorganizou a atuação militar. O comando do general Petílio Cerial foi capaz de retomar posições, fazendo os rebeldes recuarem após seguidas derrotas até a reconquista da Batávia.
Após a derrota, em 70 d.C., os destinos de Civilis e Veleda não foram suficientemente descritos. O líder guerreiro negociou os termos de rendição com comandante romano, mas não sobreviveram registros de seu paradeiro depois disso. Com a falta de informações sobre uma eventual execução, é possível especular que ele tenha aceitado um exílio como punição, retirando-se definitivamente do cenário político e militar. Veleda ainda viveu entre seus seguidores até ser capturada em 77 d.C. e provavelmente permaneceu em cativeiro em Roma até a sua morte.
Eventos como a Batalha da Floresta de Teutoburgo, a Revolta dos Batavos e de insurreições tribais dos Chatti, Bructeri, e Sicambri, entre outras, forçaram os romanos ao reconhecimento de que o domínio das regiões germânicas além do leste do rio Reno era um desafio que poderia ser evitado. A situação definiu uma mudança de abordagem, incentivando a postura defensiva ao longo da linha fronteiriça. A situação das legiões estacionadas nestas fronteiras representou um grande problema para o exército romano ao longo dos anos, pois o temor de invasões germânicas limitava a disponibilidade de efetivos para atuação em outras frentes.
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