Gunnhild: Entre ambições e feitiços no Mundo Viking

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

A controversa Gunnhild Konungamóðir, a “Mãe dos Reis”, é uma das mulheres mais marcantes presentes nos registros dos vikings. Fatos e lendas integram sua história, associada a tramas políticas, assassinatos e feitiçaria.

Suas origens são incertas. Algumas fontes sugerem que ela nasceu por volta de 910 e que era uma princesa, filha do rei dinamarquês Gom, o Velho. Existem informações divergentes que indicam que ela era procedente do norte da Noruega ou até da Islândia e que aprendeu a lidar com a magia desde cedo. Segundo as sagas, foi no Norte, provavelmente na Finlândia, onde ela conheceu seu marido Erik Bloodaxe, filho e sucessor do famoso rei Harald Fairhair (ou Harold I), pioneiro na unificação da Noruega.

Era forte sua fama de mística detentora de poderes sobrenaturais. Diziam que ela foi treinada por magos, mas tratou de eliminar seus mestres nas artes ocultas quando lhe exigiram favores sexuais. Depois disso ela aperfeiçoou seus talentos e seguiu realizando ritos misteriosos. A associação a poderes místicos podia ser ambígua, pois o domínio e uso dos conhecimentos e dons da magia poderia ter aplicação para o bem ou para o mal. No caso de Gunnhild, a reputação atribuída era negativa porque ela foi amplamente acusada de empregar sua influência através de feitiçaria com o objetivo de alcançar seus interesses. Suas conexões com o submundo das práticas do ocultismo foram amplamente utilizadas por seus detratores, que a acusavam de atos como a maldição contra Hálfdan, irmão do marido, para favorecer a ascensão de Erik ao trono. Outros casos foram coletados para compor sua figuração como uma mulher ardilosa que recorria aos poderes misteriosos para promover suas vontades e prejudicar seus desafetos.

O reinado de Erik Bloodaxe foi altamente conturbado e parte das atribulações foram, segundo os críticos, causadas pela influência de Gunnhild, que incentivava a constante desconfiança do rei, que via conspirações por todos os lados e chegou a determinar os assassinatos dos próprios irmãos. A tirania de Erik causou muitos tumultos internos no reino, sendo rejeitado pela população e pelos nobres e os alegados poderes e capacidade de previsão do futuro de Gunnhild não funcionaram para preparar o rei das movimentações que eram articuladas contra ele. Haakon, o Bom, meio-irmão de Erik Bloodaxe voltou do exílio pronto para assumir o trono. Com o apoio do rei Athelstan da Inglaterra e dos líderes da nobreza norueguesa, Haakon conquistou o poder.

Em 934, após pouco mais de um ano no trono, Erik e Gunnhild precisaram fugir com receio das consequências de pararem nas mãos dos vitoriosos e se abrigaram na Noruega e depois na Inglaterra. No território inglês, eles se estabelecerem em Jorvik (York), principal centro da região dominada por vikings conhecida como Danelaw. Athelstan realizou uma aliança com Erik que viabilizou sua posição como rei vassalo do soberano inglês na região ocupada pelos nórdicos. Foi outro período de instabilidade sob seu comando, pois sua situação era contestada por outros vikings e limitada pela pressão inglesa, resultando numa constante situação de conflitos que duraram ao longo dos 947 até 954, quando morreu em batalha. Durante o período, novamente como rainha, Gunnhild esteve ao lado do marido como conselheira política e mística, mas seus poderes não proporcionaram a segurança nem a sustentação de Erik Bloodaxe em seu seguindo trono.

Após a morte do marido, Gunnhild voltou para a Dinamarca para viver na corte sob a proteção do rei Harald Bluetooth, que foi identificado como seu irmão conforme algumas fontes. Ela tentou sem sucesso retomar o trono da Noruega com seus filhos e sua influência foi decaindo com o decorrer do tempo. Algumas sagas indicam que Gunnhild foi traída por Harald Bluetooth, que ordenou seu assassinato por afogamento em um pântano em 980, já por volta dos 70 anos de idade.

Apesar do poder e do prestígio que conheceu, a fama de feiticeira poderosa não impediu as desventuras em sua vida. A vida de Gunnhild foi retratada posteriormente com pouca simpatia a seu respeito, o que não foi incomum para outras mulheres vikings poderosas que também figuraram desfavoravelmente nas sagras, a exemplo de Freydís Eiríksdóttir, Sigrid Storrådam, Gudrun Osvifsdottir e Aslaug Sigurdsdottir, entre outras. Numa cultura tão marcada pelo patriarcalismo e com seus registros feitos por homens que contribuíam para a difusão desta mentalidade, mulheres com ambições de poder frequentemente eram sujeitas a perspectivas depreciadas.


Referências:

2 comentários

  1. […] Gunnhild, a enigmática “Mãe dos Reis”, é retratada nas sagas vikings como uma mulher poderosa e controversa, cercada por tramas políticas e feitiçaria. Esposa de Erik Bloodaxe, ela foi acusada de usar magia para manipular o poder e eliminar rivais. Apesar de seu envolvimento em reinados turbulentos, suas ambições não impediram sua queda. Lendas sobre sua vida misturam realidade e mito, tornando Gunnhild uma das figuras femininas mais in… […]

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