Margaret Cavendish: Uma inovadora e ousada escritora do século XVII

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

Margaret Lucas nasceu em 1623 em Essex, Inglaterra, filha caçula do casal Thomas e Elizabeth Leighton Lucas, abastados proprietários de terras. Ele recebeu uma educação informal através de preceptores, o que não era uma prática incomum na época, e logo despertou um enorme gosto pela leitura e inegável talento para a escrita.

Em 1643, aos 20 anos de idade, ela foi enviada para a corte como dama de companhia da rainha Henrietta Maria. Eram tempos complicados, pois ocorria a Guerra Civil Inglesa. A rainha se exilou na França no ano seguinte, levando uma tímida, insegura e relutante Margaret em sua comitiva. Vivendo a contragosto no exterior, Margaret conheceu William Cavendish, Marquês de Newcastle, com quem iniciou um romance inicialmente desaprovado pela rainha, pois ele era um homem 30 anos mais velho e estava vivendo no exílio sem recursos, pois suas propriedades foram confiscadas pelos rebeldes. Cavendish era um nobre fiel à realeza e, embora pouco habilidoso como comandante militar enquanto atuou durante os tumultos políticos da guerra interna em seu país, era um homem cortês, leal, culto e apreciador da literatura e da filosofia. O casal enfrentou dificuldades durante o exílio, sem dispor de suas fortunas sob o controle do governo republicano instituído na Inglaterra, apesar das tentativas de retomar seus recursos. Eles permaneceram exilados até 1660, quando a monarquia inglesa foi restaurada e voltaram a desfrutar de seus privilégios nobiliárquicos, passando a viver em Welbeck Abbey, residência oficial da família de William, que passou a ostentar o título de duque. 

Embora Margaret já cultivasse o hábito de escrever desde cedo, durante sua permanência em Paris ela iniciou sua produção literária. O estímulo do marido e a conivência com intelectuais e artistas exilados motivaram sua criatividade. Seus interesses envolviam ciência, filosofia e a possibilidades de integrar tais conhecimentos à literatura, resultando numa produção diferenciada. Sua primeira obra foi “Poems and Fancies” (1663), que explorava aspectos complexos das teorias atomistas e filosofia natural para apresentar suas perspectivas a respeitos da formação do universo através da poesia. Ela publicou o livro com seu próprio nome, o que era uma ousadia quando mulheres escritoras não costumavam se identificar como autoras. Margaret continuou produzindo e publicando seus escritos, que incluíam ensaios filosóficos e literatura.

Em 1666 foi publicado “The Blazing World” (“O Mundo Resplandecente”), sua obra mais celebrada e consagrada como uma produção de ficção científica em pleno século XVII. A trama do romance se passa num mundo paralelo interdimensional acessível através de uma passagem através do Polo Norte. A fantástica narrativa de Margaret Cavendish descreve uma viagem acidental de uma dama que chega até o Mundo Resplandecente enquanto fugia de um homem que a capturou. Neste mundo ela se deparou com seres híbridos como homens-peixe e homens-pássaro e foi conduzida à presença do imperador, que fez dela sua esposa. No governo utópico deste mundo em outra dimensão, ela promoveu reformas que proporcionaram o avenço da sociedade pacífica e baseada nos conhecimentos científicos. Os princípios dos fenômenos naturais são plenamente conhecidos no Mundo Resplandecente e o cosmos é detalhadamente explorado através da tecnologia dos poderosos telescópios. O livro expunha as concepções científicas de autora, com diálogos que representavam suas perspectivas filosóficas, inclusive a respeito do papel da mulher na sociedade, apresentando uma figura feminina como protagonista e figura autônima, sábia e poderosa.

Margaret defendia abertamente a educação formal feminina, ressaltando a igualdade intelectual entre os gêneros. Suas ideias e contribuições em favor da divulgação científica valeram, em 1667, a sua participação na Royal Society, entidade que reunia estudiosos e cientistas ingleses. Ela foi a primeira mulher a atuar na entidade. Ela continuou escrever e a cuidar da revisão e publicações de novas edições de suas obras, apesar de críticas de quem não apreciava sua criação.

Ela morreu em 1673, aos 50 anos de idade. A duquesa Margaret Cavendish é considerada uma escritora inovadora por suas ideias, estilo e pela ousadia num mundo intelectual e artístico dominado por homens.


Referências: