Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, os poderosos “Reis Católicos” ibéricos

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

O território espanhol já foi dividido por vários reinos cristãos e muçulmanos desde 711, quando o conquistador berbere Ṭāriq ibn Ziyād conseguiu estabelecer o primeiro território muçulmano na região, que posteriormente desenvolveu o domínio do Al-Andalus, que chegou a ocupar a maior parte da Península Ibérica. Pouco depois, em 718, teve início a longa Guerra da Reconquista, que representou os esforços dos cristãos pela expulsão dos chamados mouros, processo que se estendeu até 1492. No decorrer dos enfrentamentos e progresso da reconquista territorial, variados reinos foram formados como Leão, Castela, Navarra, Aragão e Portugal. As relações entre estas monarquias eram complexas, bastante influenciadas pelas condições da estrutura feudal, hierarquias de vassalagem e suserania entre os próprios reinos e pelas circunstâncias do equilíbrio de poder militar e dinástico.

Através da evolução da configuração territorial e política ibérica, os reinos de Castela e Aragão eram os mais destacados reinos hispânicos. Castela possuía era o mais poderoso deles, possuindo o maior território e mais numeroso contingente populacional, além de vultosa produção de riquezas através da atividade agrícola e considerável poder militar. O Reino de Aragão desenvolveu uma promissora atividade comercial e marítima através das rotas do Mediterrâneo. A aproximação entre os reinos era estratégica, assim, em 1469, uma aliança foi firmada através do casamento entre a princesa Isabel de Castela e o príncipe Fernando de Aragão, que eram primos. A articulação em torno do casamento evolveu interesses políticos para lidar com divergências palacianas e contou ainda com o envolvimento papal.

Isabel I de Castela nasceu em 1451, filha do rei João II em seu seguindo casamento com Isabel de Portugal. Sua coroação, em 1474, após uma conflituosa disputa dinástica após a morte de seu meio-irmão Henrique IV, contou com o interessado apoio da coroa de Aragão, pois favorecia ainda mais a aliança entre os dois reinos. Fernando II de Aragão, nascido em 1452, era filho de João II de Aragão e de sua segunda esposa, a nobre castelhana Joana Enríquez. Sua coroação como rei de Leão ocorreu em 1479, quando, enfim, Fernando e Isabel, consolidaram-se como governantes plenos da união entre as duas coroas.

A monarquia dual que foi estabelecida favoreceu a conclusão da Reconquista. O bem protegido Reino de Granada era o último reduto ocupado pelos islâmicos e a atuação das forças combinadas de Castela e Aragão conseguiu, finalmente, firmar sua vitoriosa ação em 1492, quando os Reis Católicos receberam as chaves da cidade de Granada, entregues pelo do sultão Boabdil e simbolizando o triunfo definitivo da prolongada luta pelo estabelecimento do domínio cristão na região ibérica. No mesmo ano, o Decreto de Alhambra determinou a expulsão dos judeus que recusassem a conversão cristã e posteriormente a mesma exigência foi imposta aos muçulmanos que ainda permaneciam no território dos reinos.

O esforço pela imposição religiosa motivou, em 1496, o reconhecimento oficial de Fernando e Isabel através título de “Reis Católicos”, concedido pelo Papa Alexandre VI. Esta posição ajudou a consolidar a liderança dos monarcas, que se emprenharam na luta contra o protestantismo, no processo de evangelização em novos territórios e no impulso à Inquisição Espanhola, estabelecida desde 1478 e atuante contra os considerados hereges e os convertidos que mantinham secretamente os vínculos com o judaísmo. A Igreja Católica figurou como um dos pilares de apoio do reinado conjunto, associação que fortaleceu a monarquia e a instituição religiosa.

O fim da Guerra de Reconquista possibilitou a atenção sobre um novo desafio para as coroas de Castela e Aragão, pois os portugueses estavam promovendo a atividade de navegação até pontos longínquos tentando chegar ao Oriente, objetivo que provocaria um imenso avanço comercial. Os hispânicos estavam em desvantagem nesta empreitada, quando o italiano Cristóvão Colombo propôs aos Reis Católicos uma iniciativa ousada de chegar até a Índia percorrendo uma rota inusitada através do oeste, presumindo a esfericidade da Terra como certa. Fernando e Isabel resolveram patrocinar a arriscada missão, que resultou, em 1492, na chegada da expedição às terras que foram posteriormente identificadas como um novo continente, a América. O sucesso do investimento dos reinos de Cartela e Aragão, mobilizou a concorrência com Portugal, que reivindicou o controle de parte do Novo Mundo através dos acordos territoriais que culminaram com a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494.

O reinado conjunto de Fernando e Isabel proporcionou uma unidade dinástica e não a formação de um Estado Nacional, pois não ocorreu uma unificação e os reinos de Castela e Aragão permaneceram com suas próprias legislações e instituições, conforme o Tratado das Concordatas de Segóvia (1475). Eles atuavam em conjunto diante dos assuntos em comum aos dois reinos e viabilizaram a continuidade sucessória a partir da descendência direta decorrente do casamento. O casal de monarcas teve cinco filhos. A primeira filha foi Isabel de Aragão (1470–1498), que se tornou rainha de Portugal, mas morreu antes de conseguir se tornar um elo entre três reinos. O único filho homem foi João, Príncipe das Astúrias (1478–1497), que morreu jovem e sem deixar descendentes. A sucessão recaiu sobre Joana de Castela (1479–1555), que se casou com o príncipe Filipe, o Belo, príncipe e posteriormente rei Filipe IV da França, união que associou a casas reais de Castela e Aragão à Dinastia dos Habsburgos através da descendência gerada pelo matrimônio. Ela chegou a ser designada pela mãe como sua sucessora legítima, mas não assumiu o poder quando da Isabel morreu, em 1504, sendo declarada incapacitada para reinar, o que levou o marido a exercer a regência em seu nome até 1505 e, posteriormente, o rei Fernando II exerceu a função regente até morrer, em 1516. A quarta filha de Isabel I e Fernando II foi Maria de Aragão (1482–1517), que também se tornou rainha de Portugal e a última filha foi Catarina de Aragão (1485–1536), que se tornou rainha da Inglaterra, sendo casada com Henrique VIII, com quem teve como filha a futura rainha Maria I.

Depois das mortes de Isabel I e Fernando II, as coroas de Castela e Aragão foram herdadas pelo neto Carlos I, filho de Joana de Castela e Filipe, o Belo. O sucessor também se consagrou como soberano do Sacro Império Romano-Germânico, coroado com o nome de Carlos V.  

A linhagem descendente do Reis Católicos reinou sobre a Espanha, Portugal, Inglaterra, Sacro Império Romano-Germânico e Navarra.


Referências:

5 comentários

  1. […] A rainha inglesa Maria I, também conhecida como Mary Tudor ou pelo infame apelido de “Bloody Mary” (“Maria Sangrenta”), chegou ao poder após um tortuoso e complicado enredo político. Ela nasceu em 1516, seu pai foi o rei Henrique VIII e sua mãe foi a rainha Catarina de Aragão, filha de Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão, os Reis Católicos da Espanha. […]

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