Para os antigos gregos, os destinos das pessoas estavam previamente definidos pelas forças superiores e as Moiras eram as misteriosas entidades que detinham a capacidade de definir e conhecer as jornadas de todos. Elas eram tão poderosas que sequer os deuses, nem mesmo o próprio Zeus, podiam alterar os cursos das decisões tomadas por elas.
As Moiras faziam parte da categoria das divindades primordiais, antigos seres divinos ligados às insondáveis forças cósmicas fundamentais que ordenavam a existência e a transcendência. Elas não davam ouvidos às súplicas, não se comoviam com as orações, não se importavam com sacrifícios ou rituais, então cultos e templos eram desnecessários diante da inflexibilidade de suas atribuições. Em Delfos elas eram honradas nas cerimônias oraculares que procuravam ao menos identificar aspectos de seus planos para os destinos daqueles que procuravam conhecer um futuro já decido. Elas eram reconhecidas frequentemente como filhas de Nix, a noite primordial, reforçando a posição que ocupavam além do alcance e do poder dos deuses olímpicos e o caráter misterioso de suas atribuições. A eternidade das Moiras também sugeria que elas eram tão primordiais que simplesmente existiam sem uma origem definida.
Elas eram as irmãs Cloto (“A Fiandeira”), Láquesis (“A Distribuidora de Sorte”) e Átropos (“A Inflexível”), cujas origens eram tão misteriosas quanto suas motivações. As três atuavam em conjunto, trabalhando de maneira integrada produzindo e consumando os destinos.
Cloto figurava como uma mulher vestida com simplicidade e que trazia consigo um fuso ou uma roca, tradicionais instrumentos de fiar. Ela produzia o fio da vida que representava o próprio tempo da existência de quem nascia. Sua aparência jovem estava associada ao início da vida, processo da que era iniciado por sua ação direta. Reforçando a postura inflexível e autônoma das Moiras perante homens e divindades, Cloto não deu atenção aos apelos de Hera, que tentou usar o eu seu poder e posição de rainha dos deuses para impedir o nascimento de Hércules, fruto da relação adúltera entre Zeus e a mortal Alcmene.
A segunda Moira era Láquesis, a “A Distribuidora de Sorte” ou “A Medidora”. Ela fazia a medição do fio criado por Cloto e determinava por quanto tempo a pessoa viveria e quais eventos fariam parte da experiência de cada um, estipulando as bênçãos e desventuras da vida. Ela era apresentada como uma mulher madura de postura contemplativa, usando trajes elaborados e portando uma vara de medir, um cetro ou um globo. Em episódios como a Guerra de Tróia, a ação de Láquesis definiu o resultado do marcante confronto entre Aquiles e Heitor, embora sua atuação não fosse diretamente citada na narrativa que apresentou os eventos do conflito.
A Moira que assumia a parte final do ciclo existencial era Átropos, “A Inflexível” ou “A Implacável”. Ela cumpria o desfecho inevitável do destino, cortando o fio da vida com suas lâminas, acentuando que toda existência tem seu fim. A última Moira era apresentada como uma velha sábia e costumava ser a mais citada entre as irmãs, estando mais presentes nos mitos como uma figura definidora. Ninguém tinha a força para impedir o ato de Átropos, que era definitivo ao realizar o processo que extinguia a existência até de deuses. Sua decisão ativava o trabalho de Tânatos, que aparecia no instante da morte para proporcionar o último suspiro e conduzir as almas para o além. Segundo as versões mais comuns, o deus da morte, como filho de Nix, era irmão das Moiras.
Uma das ações mais conhecidas e demonstrativas do poder das Moiras foi a realização da profecia de que Zeus, filho de Cronos, mataria e tomaria a posição de soberania do pai. Nem o poderoso titã foi capaz de fugir do inevitável destino, não conseguindo anular ou evitar aquilo que já estava determinado.
Entre os romanos, as Moiras correspondem à representação das Parcas, as irmãs Nona, Décima e Morta, respectivamente associadas a Cloto, Láquesis e Átropos. Assim como os gregos, os romanos acreditavam que o destino (fatum) estava traçado por uma força personificada através das irmãs, embora em Roma a deusa Fortuna assumisse um papel mais firme na crença popular a respeito dos atos da existência.
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