As Amazonas, mulheres guerreiras da Mitologia Grega, despontam como mais famoso mito sobre uma sociedade constituída por mulheres guerreiras dotadas de habilidades elevadas em combate e pela autonomia. No período colonial, os exploradores e seus cronistas conheceram histórias sobre mulheres nativas que lutavam com bravura. Entre os atuais estados do Amazonas e Pará prevaleciam variadas lendas nativas, produzidas pelos povos que habitavam a região. As mulheres guerreiras faziam parte das tantas histórias dos habitantes da floresta e os europeus logo associaram tais figuras às suas velhas conhecidas referências que remontavam aos gregos.
Espanhóis que faziam incursões na região amazônica no século XVI já começaram a relatar os primeiros contatos com as notáveis combatentes. O religioso Frei Gaspar de Carvajal descreveu, em 1541, um confronto com grupos de guerreiros comandados por mulheres altas, nuas e exímias arqueiras que foram vistas na bacia do Rio Jamundá, um afluente do grande Rio Amazonas ao leste da atual Manaus. O relato do frei registrou que tais mulheres viviam afastadas dos demais indígenas, em suas próprias cidades chefiadas por uma rainha que ostentava uma pesada coroa de ouro, riqueza que era comum entre elas, pois seus templos continham ídolos dourados e as integrantes da nobreza das amazonas também costumavam usar adornos de ouro, além de prata e outras preciosidades. Outro frei, Alonso de Rojas, foi o primeiro a qualificar as guerreiras como “amazonas”, inclusive atribuindo a elas atributos idênticos aos reconhecidos aspectos que caracterizavam as mulheres das lendas gregas, sendo mulheres “sem marido” que atraíam os homens apenas para fins de procriação, mas que viviam em comunidades distantes da presença masculina. Mais um religioso, o padre Cristóbal de Acuña, sob comando do explorador português Pedro Teixeira, chegou a identificar um local habitado por elas, um aldeamento perto do Monte Icamiaba (ou Iacamiaba), que acabou designando as destemidas mulheres de guerra.
Apesar de sua autossuficiência, as Icamiabas precisavam de homem para a continuidade do grupo. Um processo de “acasalamento” era cuidadosamente elaborado para este fim, quando homens de outras tribos eram escolhidos para participar do rito de concepção durante o Festival do Moqueado, realizado anualmente. Os locais para os encontros íntimos eram devidamente preparados, com redes decoradas caprichosamente e tecidas com fios de folhas de palmeiras. Até o ritual seguinte, as crianças nascidas tinham seus destinos definidos, quando os meninos eram levados pelos homens para suas aldeias enquanto as meninas permaneciam com as mães e receberiam desde então as necessárias instruções para dar continuidade à vida nos moldes ancestrais.
Um elemento importante associado às Icamiabas é o Muiraquitã, artefato esculpido em pedra verde geralmente na forma de rã que servia como amuleto protetivo, mas que também tinha significados relacionados à fertilidade e força. Cada amazona indígena obtinha seu Muiraquitã em uma solenidade no Lago Yacy-Uaruá (“Lago Espelho da Lua”) quando atingia a puberdade, sendo um evento importante como ritual de passagem e fortalecimento dos laços com a tradição.
Apesar de relatos dos primeiros contatos com os indígenas amazônicos, quando cronistas afirmaram que viram as Icamiabas, elas eram mais vívidas na transmissão oral das lendas nativas. Contudo, assim como várias outras narrativas tradicionais, as tribos das mulheres guerreiras foram desaparecendo do imaginário enquanto os indígenas também sofreram por causa da predatória presença dominante dos colonizadores.
Referências:

