Hipócrates, o “Pai da Medicina”

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Antes da adoção de uma perspectiva racional e metódica da medicina, a saúde e a doença eram abordadas como resultados da vontade divina. Os gregos costumavam recorrer a Asclepius, o deus da cura, quando o corpo sofria por causa de alguma patologia. Os doentes eram conduzidos para a Asclepieia, templo curativo onde médicos-sacerdotes realizavam rituais especiais como o incubatio ou “sono do templo”, que oportunizava a visita do deus curandeiro através dos sonhos. Alguns procedimentos práticos eram executados, mas a conexão sobrenatural era marcante na atuação do profissional da saúde, que contava com a intervenção mística como uma parte fundamental de seu serviço.

Foi no ambiente de uma Asclepieia que o um inovador praticante da medicina iniciou a adotar uma nova perspectiva a respeito do corpo, da doença e da cura. Hipócrates, filho do curandeiro Heráclides, nasceu por volta de 460 a.C na ilha de Cos e foi iniciado pelo pai nas artes médicas, mas também seguiu outros mestres de seu tempo como Heródico de Selímbria, conhecido pela ginástica e medicina esportiva, e foi além do Mundo Grego, conhecendo o Egito e a Líbia. O aprendizado proporcionou a adoção de novos olhares sobre a medicina e, consequentemente, a prática de procedimentos renovados.

Hipócrates se afastou dos rituais místicos como rotinas do processo de atendimento dos doentes e passou a empregar uma nova abordagem. Ele concluiu que as doenças eram causadas por fatores naturais e por isso os corpos dos pacientes deveriam ser tratados pelos médicos e não os seus espíritos, pois esta seria a atribuição de um sacerdote. Ele desenvolveu a chamada “Teoria dos Quatro Humores”, baseada nas causas gerais do adoecimento físico: sangue, fleuma, bile amarela e bile negra. A saúde dependia do equilíbrio destes aspectos do corpo, integrando a alimentação, atividade física e estilo de vida, garantindo ao organismo a capacidade de resistir e de se curar sem intervenções desnecessárias. Mesmo com as limitações do conhecimento sobre o corpo humano que prevaleciam na época, ele adotou a prática da observação do quadro dos doentes, registrando a evolução dos sintomas e respostas aos tratamentos adotados. Seu método objetivo interessado nas evidências físicas da manifestação das doenças e efeitos dos tratamentos foi a base para o surgimento da medicina clínica.

Além disso, Hipócrates se preocupou com os aspectos éticos da atuação médica. Princípios como o objetivo de agir pelo benefício do paciente promoviam a atuação para o bem-estar e condenavam os atos que causavam danos intencionais. Médicos precisam manter uma relação honesta com seus pacientes até mesmo na preservação da confiança e confidencialidade das questões privadas no âmbito do tratamento. Ele acreditava ainda que o bem médico precisava resguardar sua própria conduta e integridade. Embora não escrito pelo próprio Hipócrates, sua visão principiológica acabou influenciando a posterior elaboração do “Juramento de Hipócrates”, compromisso que virou tradição na iniciação dos médicos.

Hipócrates tornou-se uma pessoa respeitada, sendo reverenciado por notáveis como Platão. Seu trabalho foi próspero, muito requisitado e multiplicado através da escola de medicina que ele fundou em Cos, onde transmitia seus conhecimentos e visões. Após sua morte, por volta de 370 a.C., seu nome continuou aclamado e ele mereceu o título de “Pai da Medicina”.


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