O termo “demônio” deriva do grego “daimon” (δαίμων), que originalmente se refere a entidades sobrenaturais intermediárias, não sendo necessariamente representantes de forças malignas. No contexto judaico-cristão, a interpretação assumiu uma perspectiva definida a respeito desses seres, que figuram no plano oposto à posição de Deus.
Na cultura mesopotâmica existia uma categoria de figuras mitológicas que foram identificadas como demônios no sentido da concepção grega, representados como seres que poderiam exercer variadas influências sobre os humanos, compreendendo aqueles de papéis malignos e outros que proporcionavam o bem. Um exemplo notável desta variação era Pazuzu, o rei dos demônios, que protegia os humanos das ações dos demônios do mal e de outras forças prejudiciais. Sua principal oponente era Lamashtu, outra figura importante desta categoria de entidades, que estava sempre à espreita para causar malefícios.
Lamashtu, também conhecida como Dimme, habitava o submundo, domínio da sombria e tenebrosa deusa Ereshkigal. Apesar de sua condição como ser malévolo, ela tinha um status elevado porque era filha de Anu, o poderoso deus do céu, e assumiu uma posição diferente por causa de sua rebeldia incontrolável. Ser um importante demônio malfeitor de linhagem divina era uma posição realmente extraordinária em sua categoria, mas este tipo de situação não soa como algo estranho quando se conhece alguma variação desta narrativa. Ela era a personificação dos medos mais sensíveis e sua ação estava associada ao pior tipo de mal capaz de ser praticado, pois suas principais vítimas eram crianças.
Ela era representada tendo uma aparência grotesca, uma forma bestial que combinava características humanas e aspectos animalescos, com traços leoninos, garras que dilaceravam e asas que ajudavam em sua locomoção entre o submundo e o plano habitado pelos humanos. Ela se fazia acompanhar por serpentes e cães assustadores, completando a perturbadora representação de sua aparição. A entidade demoníaca mesopotâmica se alimentava de carne e sangue humanos e era responsável pelas pestes, abortos e mortalidades ocorridas durante o parto, sinalizando a amplitude de sua maleficência.
Os antigos mesopotâmicos recorriam a ritos em busca de proteção. O guardião mais comum invocado para conter a ação de Lamashtu era seu rival Pazuzu. As pessoas prepararam objetos cerimoniais que traziam a figura ou símbolos do demônio protetor da humanidade. Amuletos de Pazuzu eram exibidos para afugentar sua inimiga e rituais clamavam pelo protetor através de cânticos e encantamentos. Oferendas e sacrifícios também poderiam ser realizados como parte das práticas que buscavam o afastamento da entidade do mal. Objetos com a própria Lamashtu também faziam parte das providências contra ela e eram utilizados em atos que culminavam com a destruição destes artefatos ritualísticos. Defender as crianças e mulheres grávidas era a prioridade de teia providências, porque eram as mais vulneráveis vítimas potenciais de Lamashtu.
As características da entidade demoníaca mesopotâmica podem ter influenciado representações malignas em outras culturas. Hititas e cananeus conceberam figuras semelhantes e entre os judeus a tenebrosa Lilith também tem aspectos que podem ser associados ao mal emanado por Lamashtu.


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