Desde a Idade Média, durante o domínio mouro (711-1492), a região espanhola conheceu uma fase de diversificação em sua composição. Africanos se fizeram presentes na Espanha em diversas atividades como pessoas livres ou escravizadas, sobretudo em cidades como Sevilha e Granada. A integração à sociedade não era fácil, prevalecendo sobre os africanos um status inferiorizado, agravado pela intensificação do comércio escravista que começou a tomar um impulso notável a partir do final do século XV.
Era relativamente comum a presença de africanos ou mestiços nas atividades marítimas, atuando como marinheiros e cumprindo outras funções no serviço pesado dos portos ou dos navios. Um desses tantos trabalhadores dos mares foi Pedro Alonso Niño, conhecido como “El Negro”, nascido na Andaluzia por volta de 1468, que se destacou como um pioneiro navegador afro-europeu. Filho de uma mulher africana com um marinheiro espanhol, ele cresceu envolvido no cotidiano marítimo, participando ainda jovem de expedições pela costa africana, acumulando experiência e conhecimento sobre os processos e práticas navais e a respeito do comércio. Ela compreendia a profundamente a dinâmica das correntes marítimas e dos ventos, a interpretação cartográfica, as técnicas de navegação e o manejo de instrumentos náuticos, habilidades que não passaram despercebidas e proporcionaram uma reputação favorável como piloto.
Quando a ousada expedição comandada por Cristóvão Colombo estava sendo organizada, era preciso dispor de excelentes especialistas para realizar a missão inédita de chegar até a Índia realizando uma rota antes impensável e através de mares desconhecidos. Pedro Alonso Niño foi um desses homens, escalado para atuar como piloto a bordo de Santa Maria, o navio capitânia de Colombo.
Um piloto precisava articular os conhecimentos de navegação e a capacidade de tomar decisões rápidas e eficientes diante de necessidades vitais frequentemente em situações críticas. El Negro era a pessoa certa para o serviço, pois tinha comprovada experiência e domínio dos saberes necessários, apesar de seus 24 anos de idade na ocasião. O êxito da desafiadora missão foi a chegada da expedição até a ilha de Trinidad e as bocas do rio Orinoco, em uma área que os europeus não imaginavam que existia até então.
A experiência da participação na primeira e na terceira expedição de Colombo, proporcionou um reconhecimento ainda maior sobre sua capacidade, assegurando a Pedro Alonso Niño o comando de sua própria expedição, em 1499. Ele esteve nas ilhas de Margarita, Coche e Cubagua e obteve uma grande quantidade de pérolas através de trocas muito vantajosas com os nativos. El Negro também descobriu as minas de sal em Punta Araya, no norte da atual Venezuela.
O sucesso de sua jornada foi controverso, pois, apesar da valiosa carga que ele transportou para a Europa, El Negro foi acusado de tentar burlar o controle da Coroa Espanhola com o objetivo de sonegar o pagamento obrigatório dos tributos reais exigidos. Esse tipo de acusação era tratado como um ato de ofensa grave, causando a imediata prisão e confisco dos bens do navegador.
Pedro Alonso Niño morreu na prisão em 1505, aos 37 anos de idade. Ele foi um dos pioneiros da exploração colonial das Américas e também um dos primeiros homens de ascendência africana a chegar ao Novo Mundo, embora na condição livre e cumprindo um papel de explorador a serviço dos interesses da Europa.
Referências:


[…] Pedro Alonso Niño: Um Explorador Afro-Europeu nas Américas […]