Sophie Germain: A trajetória de uma mulher que desafiou limites para produzir ciência

(Representação visual gerada por IA)

O acesso feminino aos estudos avançados era altamente restrito no século XVIII, condição que impediu o êxito de muitas mulheres dotadas de bastante potencial para as diversas áreas do saber. Algumas, no entanto, conseguiram transgredir as expectativas e conquistaram espaços mesmo lidando com rejeições. A matemática francesa Sophie Germain é um exemplo desta obstinação contra as adversidades.

Nascida em Paris, em 1776, ela era filha do rico comerciante e político Ambroise-François Germain, que atuou como integrante dos Estados Gerais e da Assembleia Constituinte durante a Revolução Francesa. Sophie teve uma adolescência reclusa, pois as agitações da revolução iniciaram quando ela tinha 13 anos. Essa circunstância a levou a se distrair na farta biblioteca de casa, explorando obras literárias, filosóficas e, principalmente, matemáticas. Seus pais não se agradavam inicialmente do interesse da jovem pela matemática, conhecimento considerado não muito “apropriado” para mulheres. Eles tentaram impedir a persistência da filha, que gostava de se dedicar aos estudos noturnos, então escondiam livros, retiravam as velas para iluminação e guardavam seus agasalhos nas noites quentes para desestimular a rotina da jovem matemática. As tentativas de sabotagem não deram certo, pois ela insistia e manter seu ritmo de estudos e, finalmente, Ambroise-François e sua esposa, Marie-Madeline Gruguelu, desistiram de impedir a filha.

Quando Sophie tinha 18 anos, foi inaugurada na cidade a École Polytechnique, centro avançado de estudos matemáticos, físicos e de engenharia. Ela percebeu que a instituição seria um ambiente favorável para ampliar seu aprendizado, mas mulheres não eram admitidas por lá. Na tentativa de obter anotações e outro materiais discutidos naquele centro acadêmico que não permitiria seu acesso, Sophie teve a ideia de se comunicar com os professores para trocas de reflexões e análises através da correspondência escrita e usando um nome falso de M. Le Blanc. Os seus correspondentes deduziram que as análises recebidas cheias de elaborações complexas e precisas eram produzidas por um homem e respondiam com complementos, sugestões e solicitações para que ela continuasse com suas abordagens, reconhecidas pelos acadêmicos pela qualidade e rigor científico.

Ela sustentou a identidade de M. Le Blanc durante três anos de intensos e produtivos contatos, que incluíam os notáveis Louis Lagrange e Carl Friedrich Gauss, que acabaram se tornando admiradores de seu trabalho matemático e de sua determinação quando descobriram sua verdadeira autora. Lagrange acabou se tornando o mentor de Sophie, orientando a analisando seu trabalho.

Apesar de sua produtiva e profunda formação “à distância”, seus méritos e desempenhos na universidade não foram oficialmente reconhecidos pela École Polytechnique. Ela continuou desenvolvendo seu trabalho de maneira independente, expandindo seus estudos para a filosofia e psicologia. Ela aliou os conceitos matemáticos às observações sociais e comportamentais, aplicando métodos de análises que anteciparam os princípios que seriam desenvolvidos posteriormente pela abordagem positivista de Auguste Comte. Suas contribuições matemáticas envolveram teria dos números, comprovando teoremas e desenvolvendo abordagens. Ela desenvolveu análises matemáticas aplicadas aos estudos físicos de acústica e eletricidade que foram importantes para o campo teórico e desenvolvimento da engenharia.

Sophie Germain decidiu não casar e não constituir uma família para poder se dedicar exclusivamente ao seu trabalho teórico e científico, publicando obras fundamentais e promovendo inovações nos estudos e aplicações matemáticas. Em 1811, ela recebeu um prêmio da Academia Francesa de Ciências por seu trabalho em teoria da elasticidade. O reconhecimento contrariou a condição de ter sido frequentemente desprezada pela instituição e a falta oportunidades para que ela participasse ativamente da comunidade de cientistas mesmo considerando a relevância de seu trabalho. Apesar disso, Sophie foi a primeira mulher a obter tal reconhecimento institucional.

A notável matemática foi diagnosticada com câncer de mama, mas seguiu firme no seu trabalho até morrer em 1831, aos 55 anos. Ela deixou diversos registros que foram publicados depois de sua morte.


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