Mulan: Um símbolo da mulher guerreira na história da China

(Representação visual gherada pela IA Leonardo)

Mulan é uma das figuras guerreiras mais aclamadas, embora sua existência pertença ao universo das lendas e da literatura.

Ela despontou no poema narrativo “Balada de Mulan”, que remonta aos tempos da Dinastia Wei do Norte, que prevaleceu entre 386 d.C. e 534 d.C. Na obra, a jovem Mulan fica sabendo que seu pai adoentado e idoso foi convocado para a guerra e decide ir em seu lugar movida pelo cuidado e preocupação. Ela providenciou um cavalo, armas e roupas de combate para lutar, mas como mulheres não eram admitidas no exército, a voluntária assumiu uma identidade masculina e partir para a luta. Ao longo de uma década, Mulan lutou bravamente e foi reconhecida por sua habilidade e heroísmo pelo próprio imperador quando a guerra acabou. Depois de encerrado seu serviço, ela voltou para casa e reassumiu sua identidade feminina. 

A história da guerreira tornou-se logo popular porque abordava questões importantes como bravura, lealdade e amor à família. Com o tempo, novas interpretações foram elaboradas e ajudaram a difundir a personagem como um exemplo virtuoso para o povo. Durante a Dinastia Ming, período de intenso vigor artístico na China, o pintor e dramaturgo Xu Wei (1521-1593) adaptou o poema através da peça “A Mulher Mulan se Junta ao Exército no Lugar de Seu Pai”, acrescentando mais detalhes para aprofundar a representação da heroína, inclusive adicionado o nome “Hua” (“flor”) à sua identificação para acentuar a feminilidade, apesar de ter aprimorado sua descrição como combatente.    

Em “O Romance de Sui e Tang”, escrito por Chu Renhuo no final do século XVII, Hua Mulan reaparece ambientada no contexto de produção da obra, durante o tumultuado período de vigência da Dinastia Qing. Nesta versão, a protagonista é representada como uma jovem mestiça de pai turco e mãe chinesa e vai lutar a serviço de um Khan. Uma nova figura feminina forte aparece na narrativa. Ela é a princesa Dou Xianniang, que capturou Mulan após uma batalha, mas acabam se tornando amigas e aliadas. O fim da heroína nesta versão é trágico, pois ela acaba se matando diante do túmulo do pai depois de voltar da guerra, de ter sua identidade descoberta e ser pressionada pelo Khan.

A representação de Mulan como uma mulher guerreira tem sido discutida no contexto da história e cultura da China. Há quem especule que ela foi inspirada em uma verdadeira mulher que atuou em batalhas e fora da literatura e das lendas, as guerreiras, embora raras, fizeram parte de marcantes momentos históricos. Em “A Arte da Guerra”, Sun Tzu trata de sua experiência de treinar mulheres para a luta armada. Figuras históricas marcantes destacam a presença de mulheres em ação bélica. Uma delas foi a princesa Pingyang (589-663), uma importante general e habilidosa guerreira da Dinastia Tang, e outro nome memorável foi o da poderosa Fu Hao (século XI), que foi comandante de tropas, sacerdotisa e senhoras de terras que acabou sendo divinizada por seguidores após sua morte. 


Referências: