Bento IX, o Papa que vendeu o Trono de Pedro

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

A mistura dos interesses mundanos e religiosos foi causadora de situações polêmicas no decorrer da história da Igreja Católica, desafiando a fé e a moralidade. Durante a Idade Média a situação era especialmente séria, proporcionando notáveis escândalos que destacaram personagens controvertidos como o Papa Banto IX. Ele comandou a instituição entre 1032 e 1048 num pontificado que foi interrompido duas vezes por corrupção. O próprio ocupante do Trono de Pedro vendeu sua posição em supremo exemplo da prática de simonia, delito religioso grave referente à negociação vantajosa de coisas sagradas como artefatos espirituais, favores divinos, bençãos e cargos eclesiásticos. 

Seu nome era Teofilato de Túsculo, nascido em Roma por volta de 1012, estava praticamente predestinado a altas posições na Igreja Católica, pois essa era a herança de um legado familiar. Seu pai, Alberico III, era o conde de Túsculo, líder do poderoso grupo que dominava a política e os altos escalões eclesiásticos. Bento VIII e João XIX, papas que antecederam Teofilato, foram seus tios, situação que evidenciava o poder dinástico do qual ele era representante e herdeiro. 

Teofilato de Túsculo teve uma vertiginosa carreira eclesiástica, escolhido num conclave papal para comandar a Igreja aos 20 anos de idade, adotando o nome de Bento IX. Foi uma eleição polêmica, pois Alberico III distribuiu subornos e ameaças entre os cardeais, gerando um estado de profundas divergências internas na cúpula católica. No início de seu pontificado Bento IX precisou lidar com as pressões das divergências políticas e questionamentos à sua legitimidade, mas respondeu adotando medidas contra a corrupção, o que aliviou as queixas. Porém, esta postura moralizadora foi apenas uma medida para disfarçar temporariamente suas intenções. 

No decorrer de sua presença no poder foram manifestadas e denunciadas suas práticas inadequadas. As críticas incluíam comportamento imoral, envolvendo sodomia, agressões e até assassinados executados sob suas ordens. Dentro e fora de Roma as críticas se intensificavam, forçando o alto clero católico a agir contra o seu Sumo Pontífice, cada vez mais enfraquecido. Em 1044 a situação do Papa estava insustentável e ele acabou sendo expulso. Em seu lugar foi estabelecido Silvestre III na condição de antipapa, líder estabelecido em oposição a um papa legitimamente eleito e que postula o comando sobre a igreja. Durante seu exílio, Bento IX conseguiu reagrupar apoios na família e entre aliados, voltando ao pontificado no ano seguinte.

Sua volta ao exercício da atribuição de Vigário de Cristo na Terra não foi duradoura. As divergências internas na Igreja Católica permaneciam intensas, tornando seu pontificado insustentável. A solução que ele encontrou para a situação foi estabelecer um aliado em seu lugar, mas a forma empregada para realizar a substituição foi ainda mais escandalosa, pois ele designou o padrinho como Papa Papa Gregório VI após receber um vultoso pagamento. Ele foi acusado de vender o papado, o que causou reações de membros da Igreja e de líderes laicos como Henrique III do Sacro Império Romano-Germânico. 

Em dezembro de 1046, o imperador convocou o Concílio de Sutri para resolver a situação do comando da instituição. Foi estabelecida a decisão a respeito da caótica situação de existência de três papas de legitimidade questionada ao mesmo tempo: Bento IX, Silvestre III e Gregório VI. O concílio decidiu que nenhum deles deveria assumir o pontificado, designando Clemente II como novo Pontífice. O novo papa legitimado pela decisão do concílio morreu após meses de sua nomeação, oportunizando uma nova manobra de Bento IX e de sua família para a volta ao poder no Palácio de Latrão, então sede da Igreja Católica. 

Com uma Igreja tumultuada por brigas entre seus líderes, Bento IX articulou sua volta aproveitando-se da confusão que prolongava a indefinição sobre a escolha de um novo Papa, mas o imperador Henrique III voltou a empregar seu poder contra ele, enviando tropas para forçar a expulsão definitiva de Bento IX e assegurar a realização de um novo conclave, que escolheu Dâmaso II como novo papa.

Destituído de seu nome papal, Teofilato de Túsculo foi julgado por suas transgressões e acabou excomungado em 1049. Depois disso, ele retirou-se para uma vida de isolamento na Abadia de Grottaferrata, onde morreu em 1055.


Referências:

Um comentário

  1. […] Bento IX, um dos papas mais controversos da história, assumiu o papado ainda jovem e enfrentou uma série de escândalos que mancharam sua reputação. Acusado de crimes graves e comportamento imoral, ele chegou ao ponto de vender o próprio cargo de Papa a Gregório VI, um escândalo que chocou a Igreja. Descubra como essa figura polêmica navegou pelo caos e pelas intrigas políticas da época, e como … […]

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