Rani Rudrama Devi, a primeira rainha guerreira da Índia

(Representação visual gerada pelas IAs DALL-E e Leonardo)

Quando o subcontinente indiano era composto por várias nações, na região sul foi estabelecido o reino autônomo de Warangau, que prevaleceu entre os séculos XII e XIV e foi fundado pela dinastia dos Kakatiyas. Após sucessivos avanços e conquistas territoriais, além de firme resistência diante das ameaças externas, o apogeu dinástico ocorreu no século XIII durante os reinados de Ganapati Deva e de sua filha Rani Rudrama Devi, uma rainha que teve uma trajetória peculiar.

Ela viveu numa sociedade altamente patriarcal e o fato de ser a única herdeira de Ganapati Deva representou um problema para a perspectiva de continuidade da dinastia, pois a possibilidade de uma mulher governar era vista como algo inviável. O rei resolveu contornar esta situação através de uma preparação incomum de sua sucessora, que passou a ser chamada publicamente pelo nome masculino Rudradeva e sempre era exibida diante dos espectadores com roupas masculinas para forçar a aceitação por parte da nobreza e demais súditos. Desde cedo ela recebeu uma educação elevada apropriada para alguém que exerceria a responsabilidade de governar, além de se submeter a um rigoroso treinamento militar. Ela demonstrou notável capacidade de assimilar os conhecimentos sobre administração pública, relações diplomáticas, legislação e aplicação da justiça, estratégias de guerra e artes marciais, tendo uma completa formação de um príncipe.

Aos 14 anos ela foi integrada ao governo para adquirir experiência prática, acompanhando o pai em audiências, reuniões, vistorias em obras e atividades militares. Em 1260 foi designada para o posto de co-regente sob o título de Rudra-deva Maharaja e quando chegou o momento de assumir o poder por conta própria, em 1263, ela já estava perfeitamente familiarizada com suas atribuições após anos de atuação no governo. Apesar disso, preencher os requisitos de possuir experiência, conhecimento e legitimidade não foi o suficiente. Opositores entre parentes e líderes rebeldes entre seus vassalos resistiram à ideia de ter uma mulher como soberana e Rudrama Devi precisou agir para sufocar os focos de resistência e tentativas de golpes de pretendentes usurpadores, impondo punições para demonstrar o seu poder.

Depois de vencer os conspiradores, a rainha colocou em ação suas visões para aprimorar a administração, promover a aplicação da justiça e favorecer as diversas cidades de seu reino, articulando alianças com lideranças locais.

Seu reinado teve forte atuação militar, assegurando vitórias importantes contra as ameaças dos reinos rivais dos Yadavas de Devagiri, dos Cholas e dos Gajapatis, embora territórios acabassem sendo perdidos através da continuidade das guerras. Foram construídas estruturas como o Forte de Warangal para reforçar a defesa do reino contra os inimigos externos ou frequentes oponentes internos. Demonstrando seu envolvimento na defesa do reino, a própria Rudrama Devi liderava o exército durante batalhas e traçava as táticas de ação. Isso ajudou a consolidar sua reputação diante das tropas, mesmo que tal posição colocasse a rainha em risco. Ela acabou morrendo enquanto lutava contra uma insurgência em 1289.

Mesmo se apresentando publicamente vestida com roupas masculinas e ostentando títulos atribuídos a homens, a rainha foi uma mulher casada e teve três filhas. Ela decidiu nomear como sucessor seu neto, o príncipe, Prataparudra, que foi adotado como filho legítimo para evitar contestações. O herdeiro preparado previamente para o exercício do poder, mas durante seu governo o reino sofreu diversas derrotas até acabar dominado.


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