O Monstro de Londres, um indecente e misterioso criminoso sexual do fim do século XVIII

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Entre 1788 e 1790, as pessoas em Londres, principalmente as mulheres, estavam bastante apreensivas e um certo clima de pânico tomou conta da cidade por causa da atuação de um misterioso criminoso que realizava ataques furtivos. O malfeitor que ficou conhecido como “O Monstro de Londres” não deixou vítimas fatais, mas seus ataques afetavam o decoro público e mantinham a população em estado de alerta.

O criminoso era um maníaco sexual com uma atuação peculiar, pois utilizava um instrumento pontiagudo para golpear mulheres que perseguia discretamente ou emboscava. Ele atingia partes íntimas das vítimas com tal objeto perfurante, provocando danos que iam além dos ferimentos causados, pois atingia a dignidade das mulheres atacadas. Sua prática era considerada ainda uma violação às normas morais que preservavam as mulheres de contatos em condições vexatórias, causando traumas e estigmas.

Praticante de um comportamento desviante conhecido como piquerismo, caracterizado pela excitação sexual derivada do ato de cortar ou perfurar a pele de outra pessoa, o Monstro tinha preferência pelos golpes em nádegas, coxas e seios das vítimas. Mulheres jovens e de boa aparência foram suas vítimas predominantes, com uma preferência adicional em relação a quem se apresentava de maneira bem-vestida no momento do ataque. Ele assediava mulheres que estavam desacompanhadas ou que trafegavam em pares ou pequenos grupos sem homens. Algumas delas foram abordadas após uma conversa aparentemente inofensiva ou galanteadora como distração, outras foram subitamente encurraladas pelo agressor quando passavam pelo local que ele escolhia para agir. Geralmente ele proferia obscenidades para as vítimas enquanto as golpeava. Além do objeto perfurante, que algumas descreveram como um alfinete, ele postava uma faca para agravar a ameaça e eventualmente utilizar caso julgasse necessário.

A identificação do agressor era prejudicada porque ele costumava recorrer a disfarces com artefatos postiços como perucas ou barbas, além de evitar posições e posturas que favorecessem o contato visual por parte das mulheres. Os relatos descritivos para a identificação do bandido variavam por causa de sua estratégia e pelo impacto psicológico de sua abordagem, pois a mulheres ficavam tão atordoadas que entravam em choque ou facilmente desmaiavam durante o momento do crime. Considerando o estado nervoso das vítimas, a capacidade de lembrar dos detalhes a respeito do maníaco era afetada ou se confundiam quando prestavam seus depoimentos.

Os riscos começaram a afetar o cotidiano da cidade. O clima de histeria amplificado pela cobertura sensacionalista da imprensa da época gerou reações como o medo das mulheres que evitavam sair de casa, o uso de inusitadas proteções como panelas escondidas por baixo das saias. Outro efeito da situação foi a defesa de mais repressão contra o comportamento feminino, pois não faltou quem alegasse que a liberdade das mulheres fazia delas potenciais alvos para a ação de agressores nas ruas.

Entre as vítimas, além das marcas físicas evidenciadas por meio das cicatrizes, era comum que sofressem impactos psicossociais que causavam ansiedade e maior tendência à reclusão doméstica, reduzindo suas interações sociais. Muitas sentiam que suas reputações foram destruídas.

A atuação continuada do Monstro desafiou as autoridades, que eram cobradas publicamente por causa do insucesso na detenção do criminoso. Além dos integrantes do alto escalão do governo e da justiça, os Bow Street Runners, agentes da força policial de patrulhamento e investigação, eram duramente criticados pela imprensa e população por causa da ineficiência diante do caso. Muitos suspeitos foram abordados e soltos por falta de evidências, porém as autoridades precisavam chegar ao causador dos transtornos e acabaram apontando o galês Renwick Williams, de 23 anos, como o Monstro de Londres. Williams era um sujeito problemático com antecedentes de envolvimento em brigas e golpes. Ele foi apontado por uma das vítimas e polícia achou importante deter logo o suspeito para alardear a solução do caso, embora o acusado e conhecidos dele atestassem sua inocência. Ele foi logo julgado e condenado para encerrar as polêmicas, mas outros ataques aconteceram enquanto Williams cumpria sua pena de seis anos de prisão.


Referências: