Os detetives são profissionais que empregam métodos para elucidar situações duvidosas em busca de soluções lógicas que comprovem as circunstâncias por trás de casos criminais e outras ocorrências que precisam de esclarecimentos através de um trabalho investigativo. Eles podem estar a serviço do setor público como agentes policiais especializados no serviço de desvendar os crimes com o objetivo de identificar seus autores ou podem ser detetives particulares que atuam sob contrato e discrição em casos variados para atender aos interesses de quem recorreu à perícia de suas abordagens. Profissionais de observação criteriosa, atenção aos detalhes e engenhosas práticas de apuração de informações, eles também inspiram personagens marcantes na literatura, como o icônico Sherlock Holmes e outras figuras fascinantes que ajudaram a gerar um grande interesse pelas artes investigativas.
Um importante pioneiro real da atividade de apuração de fatos e revelação de elementos comprobatórios para a elucidação de delitos, atuações suspeitas ou decoberta de segredos foi o francês Eugène François Vidocq (1775-1857), conhecedor da mentalidade criminosa e desenvolvedor de abordagens precisas.
Vidocq teve origem pobre, sendo filho de trabalhadores que lidavam com a produção de pães na cidade de Arras. Desde cedo seu comportamento foi caracterizado pela rebeldia e uma demonstração disso foi a forma que ele achou de fugir de casa aos 14 anos, furtando o pouco de dinheiro que a família guardou. Depois de ir embora, ele tentou migrar para a América, mas acabou sendo enganado por golpistas que ficaram com o dinheiro que seria utilizado para bancar a viagem. Sem ter para onde ir, ele voltou para a casa dos pais, onde permaneceu até se alistar no exército, aos 16 anos, atuando durante os conflitos da Revolução Francesa.
Sua trajetória militar também foi marcada pela indisciplina, apesar de seu bom desempenho como combatente. Ele abandonava o serviço e desertava, depois reaparecia para voltar a apresentar um comportamento indesejado até ser definitivamente excluído. Fora do exército, ele se envolveu no mundo do crime como assaltante, praticando fraudes e falsificações. Vidocq foi detido diversas vezes, mas sua habilidade enganadora o ajudou a escapar da cadeia em todas ocasiões recorrendo a artifícios mirabolantes que incluíram uma fuga disfarçado de freira. Ele chegou até a fugir do famigerado Bagne de Brest, colônia penal destacada pelo alto nível de mortalidade de seus internos.
A certa altura o próprio Vidocq cansou da vida desregrada e resolveu ser colaborador das autoridades, atuando como informante da polícia de Paris. Ele conhecia as ruas, estava familiarizado com as rotinas e práticas dos criminosos e passou a ajudar inicialmente como agente infiltrado em quadrilhas de bandidos. Sua atuação e experiência indicaram que ele era capaz de oferecer mais contribuições para desbaratar operações criminosas, então, em 1811, quando foi instituída a primeira unidade de investigação à paisana do mundo, a Brigade de la Sûreté, Vidocq foi recrutado como líder e agente especial. Ele comandava uma equipe de homens que, assim como ele, possuíam precedentes criminais e conheciam bem as artimanhas da bandidagem, introduzindo uma nova perspectiva para a operação policial. Os métodos da Brigade de la Sûreté envolviam o trabalho disfarçado, espionagem e inovadoras técnicas forenses como produção de moldes de gesso para isolar pegadas nas cenas de crime, análises de escrita para identificação de falsificações, procedimentos rudimentares de balística e estratégias de interrogação.
O sucesso do trabalho foi estrondoso e o modelo do serviço foi replicado em todo país durante o governo de Napoleão, mas existiam resistências contra Vidocq e seu grupo entre os policiais, que não confiavam em agentes com passado na vida criminosa. As pressões foram se agravando ao ponto de fazer com que ele desistisse de seu trabalho oficial em 1827.
Em 1833 ele fundou sua própria agência de investigação, a pioneira Bureau des Renseignements. Ele atraiu clientes interessados na perícia dos detetives conhecedores do submundo parisiense para que realizassem investigações diversas, muitas vezes confrontando a atuação policial em casos controversos e até extrapolando os limites legais.
Em seus últimos anos, Vidocq também se dedicou a outras atividades, como a administração de negócios industriais que oportunizavam empregos para ex-condenados. Sua atuação como investigador influenciou escritores que criaram personagens diretamente inspirados nele, como o ex-condenado Jean Valjean e o inspetor policial Javert em “Os Miseráveis”, obra de Victor Hugo.
Referências:


[…] investigativos e especialização policial através das inovações introduzidas pelo detetive Eugène-François Vidocq. Além disso, o sistema punitivo era baseado numa legislação severa e numa lógica que […]