O Império de Axum chegou a dominar uma vasta região que incluía a atual Etiópia como centro e abrangia a região costeira da Eritreia, além do Sudão Oriental e até colônia no Iêmen, do outro lado do Mar Vermelho. No fim do primeiro milênio aquele que foi um vigoroso império africano estava em situação crítica. Ocorria a redução de sua zona de influência e domínio acentuada pelo declínio econômico por causa do fortalecimento comercial das regiões islamizadas e por uma prolongada calamidade climática que causou uma seca que devastou áreas de plantio; paralelamente ocorriam conflitos internos caracterizados por disputas pelo poder e rebeliões regionais e pressões externas representadas por constantes invasões e pressões das novas potências regionais que despontavam. Outro aspecto da crise envolvia os conflitos religiosos numa região marcada pela diversidade de crenças, abrangendo variadas religiões nativas, judaísmo, islamismo e o cristianismo associado ao poder central.
Neste cenário conturbado despontou a figura da rainha Gudit – também conhecida como Yodit – liderando seu povo contra o decadente poderio axunita. Embora citada em variadas fontes, muitos aspectos sobre sua vida são objetos de dúvidas e debates. Uma das mais difundidas conclusões sobre suas origens indica que ela era procedente de um povo judaico etíope (Beta Israel) ou teria sido convertida após o casamento com o príncipe Zenobis, que fazia uma forte oposição ao domínio cristão de Axum e tinha recursos para proporcionar uma guerra em favor dos judeus. Outras fontes sugerem que Gudit pode ter sido uma rainha tribal do povo Sidama dominado pelos cristãos axunitas. Outras teorias apontam para possibilidades diferentes, o que acrescenta ainda mais incertezas a respeito da rainha guerreira.
Independente de sua origem exata, consta que Gudit viveu sob o predomínio de Axum, que realizava uma opressiva perseguição aos povos praticantes de religiões não cristãs. Este cenário e o frequente testemunho dos abusos, bem como o fato de ter sentido a sufocante pressão dos dominadores que a agrediram e mutilaram um de seus seios, forjaram nela um sentimento de revolta que foi posteriormente canalizado para a ação. Além do conflito religioso e de sua motivação de vingança contra Axum, Gudit percebeu no cenário político de fragilidade do império uma chance para ampliar seu próprio poder.
Ao lado de Zenobis, Gutit aglutinou aliados e constituiu um forte exército que ela comandou pessoalmente. Como estrategista talentosa, ela avaliou o momento adequado e a abordagem para realizar o ataque à cidade de Axum, capital do Império Axumita, aproveitando-se da ausência do rei Degnajan e de significativa parte do efetivo de defesa. A invasão foi devastadora, com as forças de Gudit destruindo a cidade, sobretudo igrejas e outros monumentos religiosos, implicando na queda de um dos mais importantes centros do cristianismo na África. O episódio foi decisivo para a desestabilização e colapso geral do império.
A rainha se estabeleceu no poder sobre a área conquistada durante cerca de 40 anos.
Referências:


[…] Gudit, a rainha guerrreira que derrubou um império […]
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