A aplicação de golpes mirabolantes e astuciosos pode requerer talento, engenhosidade e planejamento para obter sucesso e o escocês Gregor MacGregor foi um vigarista que conciliou esses requisitos, enganando muitas pessoas no século XIX ao inventar uma colônia que só existia em sua trama enganosa.
Nascido em 1786 na cidade de Stirlingshire, ele era proveniente de uma tradicional e respeitada família que se orgulhava de ser descendente do histórico clã Gregor. Após perder seu pai ainda na infância, ficou sob o zeloso cuidado de sua mãe, que não mediu esforços para articular suas fortes conexões com o poder e pessoas influentes para obter posições em favor do filho. O acesso de MacGregor à Universidade de Edimburgo aos 16 anos de idade foi proporcionado por estes vínculos, mas o rapaz tinha planos de ingressar na carreira militar e novamente foi favorecido pela atuação de facilitadores na estrutura política, obtendo no mesmo ano uma posição distinta na oficialidade do Exército Britânico no mesmo ano, evitando atuar como soldado raso nas Guerras Napoleônicas.
Em 1805 casou-se com a filha de um almirante da Marinha Real, fortalecendo conexões sociais importantes e obtendo um dote substancial, mas MacGregor era uma pessoa difícil de lidar e costumava se envolver em atritos. A Inglaterra possuía uma aliança militar com Portugal contra as forças de Napoleão e em 1809 ele acabou sendo designado para atuar como major em apoio ao Exército Português depois de um desentendimento com um oficial superior. A insubordinação persistente acabou levando ao seu desligamento da força militar inglesa no ano seguinte.
Fora do exército, MacGregor permaneceu atuando como um oficial de armas mercenário. Combateu por Veneza contra a Espanha até 1812, quando resolveu ter outra experiência na América do Sul, atuando na Colômbia e na Venezuela, onde fez parte da força rebelde liderada por Simón Bolívar, que lutava pela independência da região. Precocemente viúvo, voltou a se casar com uma prima de Bolívar e construiu uma outra rede de influentes conexões políticas. Em suas jornadas nas Américas também comandou expedições mercenárias na captura de Amelia Island, na Flórida, durante a malfadada formação da República das Floridas, em 1817. Combatente que lutava por interesses e não por causas, desistiu dessa última empreitada quando a situação se mostrou desfavorável, abandonando seus comandados em situação crítica.
Depois de macular sua reputação no Novo Mundo, MacGregor decidiu voltar para a Inglaterra com um novo plano. Ele resolveu apresentar um projeto colonizador para investidores, apresentando um território fictício nas América Central chamado Poyais. Ele se exibia como uma espécie de nobre de uma promissora região governada pelo imaginário rei George Frederic Augustus, de quem era emissário especial. As vítimas eram atraídas através da promessa de oportunidades como a concessão de falsos lotes de terra férteis e ricas em diversos recursos. Para dar credibilidade ao golpe ele exibia mapas imaginários, gravuras fajutas, documentos forjados e um livro escrito por um inexistente Thomas Strangeways que era um guia detalhado do falso reino tropical. O vigarista até mantinha escritórios em Londres e Edimburgo que funcionavam como “embaixadas” de Poyais, onde efetivava muitas de suas transações de vendas de títulos de propriedades.
MacGregor conseguiu arrecadar um significativo montante de dinheiro com esta fraude e chegou até a organizar expedições com mais de 200 colonos iludidos que chegaram a embarcar para Poyais. Os dois grupos que caíram na farsa acabaram chegando à Costa dos Mosquitos, entre Honduras e Nicarágua, onde tudo o que encontraram foi selvas inexploradas num território que fazia parte do Império Espanhol e que era objeto de contestações e disputas com os britânicos. As duas viagens que MacGregor organizou, enganando tripulações dos navios e passageiros, tiveram resultados calamitosos com mais da metade dos participantes mortos pela precariedade da situação da viagem e pelo despreparo para lidar com o problema da inexistência do destino da jornada, obrigando a realização de um retorno sem recursos como água potável, alimentação e com a ocorrência de surtos de malária.
Os sobreviventes que conseguiram voltar para casa denunciaram o golpe, mas MacGregor já havia fugido para a França, onde também estava aplicando a mesma fraude até ser finalmente desmascarado e preso em 1825. Acusado apenas pelos delitos praticados na França, ele acabou se safando habilidosamente ao manipular os julgadores com sua notória capacidade de convencimento. Expulso dos domínios franceses, voltou para o Reino Unido, onde continuou impune e praticando novos golpes com menores potenciais de riscos e danos. Mesmo assim, o pilantra acabou voltando a chamar a atenção das autoridades e precisou fugir mais uma vez.
MacGregor resolveu encontrar abrigo na Venezuela, onde ainda tinha certa reputação preservada como participante da luta pela independência do país. Por lá ele recebeu uma pensão vitalícia e não precisou mais arquitetar seus esquemas, vivendo sob a proteção do governo e longe de responder por seus crimes. Ele morreu em Caracas aos 58 anos de idade, em 1845.
Referências:


[…] Gregor MacGregor, o vigarista que vendeu um país imaginário […]