Nos idos do século XVI era comum que moças ingressassem na vida religiosa confinadas aos conventos, muitas vezes forçadas por suas famílias. Diversos fatores contribuíam para essa realidade. A forte religiosidade da época era um elemento crucial, mas não o único. A preservação da herança familiar também desempenhava um papel importante. Destinar o envio de filhos e filhas para o ingresso na estrutura da Igreja reduzia o número de herdeiros e, consequentemente, a fragmentação do patrimônio. Excluir as filhas e seus eventuais descendentes desta partilha era uma alternativa frequentemente considerada nas famílias abastadas para manter a riqueza concentrada. Já para as famílias em situação de pobreza, a vida religiosa representava uma chance de garantir a subsistência das filhas, pois os conventos ofereciam abrigo e sustento por toda a vida.
Nos conventos era esperado que as mulheres estivessem preservadas das tentações mundanas, fossem obedientes às rígidas normas de conduta e se dedicassem à fé com fervor. No entanto, muitas freiras não se sentiam vocacionadas para uma vida de total dedicação religiosa, sendo privadas de suas liberdades e vontades pessoais.
Esta situação podia causar sofrimentos, estimular a transgressão e provocar situações extremas como a vivida por Marianna de Leyva y Marino. Ela nasceu em 1575 em Milão, embora fosse filha de nobres espanhóis. Ela perdeu a mãe logo cedo, vitimada pela peste, e passou para os cuidados de uma tia até completar 13 anos de idade. Depois disso, seu pai determinou que ela deveria ser freira, enviando a filha para o convento de Santa Margherita, na cidade italiana de Monza, onde ela passou a ser conhecida como Irmã Virginia Maria. Por sua origem nobre, ela recebeu um tratamento diferenciado e sem a pressão das condições de um confinamento rigoroso, pois ela tinha permissão para sair do convento e circular pela cidade. Apesar de suas regalias e liberdade, Marianna levou a sério seus compromissos de devota, cumprindo adequadamente as rotinas e ritos do convento.
Tudo mudou quando ela conheceu Giovanni Paolo Osio, um jovem de família abastada que vivia perto do convento. Marianna e Giovanni sentiram-se mutuamente atraídos, apesar da condição problemática da situação, afinal, ela era uma freira impedida de manter um relacionamento por causa de seus votos sagrados. Apesar disso, os dois começaram a trocar correspondências secretas e a se encontrar clandestinamente, ajudados por cúmplices do próprio reduto religioso que proporcionavam o acesso do amante ao aposento da freira transgressora.
Marianna ficou grávida pela primeira vez e conseguiu manter a gestação escondida das demais irmãs, mas deu à luz a um natimorto em 1598. Em 1603 ocorreu uma nova gravidez e nasceu uma menina que foi chamada Alma Francesca Margherita, que Giovanni acolheu como sua filha ilegítima sem identificar a mãe.
Em 1606, com a persistência do caso amoroso, as suspeitas sobre o comportamento de Marianna foram crescendo no convento, escandalizando outras mulheres da congregação. Uma das inconformadas era a irmã Caterina Cassini, que estava determinada a denunciar a irregularidade, o que causaria repercussões muito sérias para todos envolvidos. Diante do perigo, Giovanni, Marianna e seus cúmplices, incluindo um padre chamado Paolo Arrigone, concordaram que a ameaça deveria ser eliminada, o que significava que Caterina precisava morrer.
O crime foi brutal, com a freira sendo esquartejada e tendo partes de seu corpo espalhadas na tentativa de ocultação. A trama contou ainda com a falsa denúncia de que Caterina foi vista fugindo do convento, mas persistiram indícios de que havia algo muito errado em toda aquela trama, motivando uma investigação que no ano seguinte apurou a verdade sobre a situação chocante. Depois de preso, Giovanni Osio, o executor da pobre freira, conseguiu fugir antes do julgamento, mas sendo condenado à morte mesmo estando ausente. Seu destino acabou sendo cumprido porque foi assassinado posteriormente por um conhecido.
Marianna não escapou das consequências. Torturada antes de confessar seus delitos, ela foi submetida a um julgamento canônico e condenada ao emparedamento por 13 anos. A pena consistiu em seu confinamento em um recinto isolado do mundo externo, com uma parede construída no lugar da porta. Apenas uma pequena abertura foi mantida para que ela recebesse alimentação e água. A cela quase não recebia iluminação, tinha péssimas condições para a circulação de ar e higiene precária, o que fazia do confinamento uma fonte indescritível de sofrimento físico e psicológico. Incrivelmente, Marianna conseguiu sobreviver aos 13 anos de emparedamento, sendo retirada de seu escuro e tenebroso castigo em 1622. Ela viveu em penitência no convento até seus 75 anos, morrendo de causas naturais em 1650.
Referências:

