A Odisseia de Cabeza de Vaca através do Novo Mundo

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Quando os europeus iniciaram o processo de dominação das Américas envolveram a participação de variados tipos de exploradores como militares, negociantes, clérigos e diversas pessoas dispostas a encarar desafios e aventuras em busca de riquezas, glórias ou mesmo experiências únicas em lugares distantes e diferentes. Um dos tantos exploradores que encararam a travessia oceânica para o desconhecido foi espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca, da cidade de Jerez de la Frontera.

Nascido por volta de 1490, Cabeza de Vaca era de uma família de um nível intermediário da nobreza espanhola e ingressou cedo na vida militar. Ele participou da Revolta dos Comuneros (1520-1522), rebelião contra o rei Carlos I defendendo o lado do monarca no confronto.

Em 1527 foi designado para atuar na expedição comandada pelo navegador Pánfilo de Narváez, assumindo os cargos de tesoureiro na fase de organização e de chefe da guarda durante a execução da missão que tinha como objetivo a ousada conquista da região da La Florida, que abrangia partes do que é hoje o sudeste dos Estados Unidos​. Eram cinco navios transportando cerca de 600 pessoas, mas a missão acabou não saindo como o planejado. Depois de uma parada para abastecimento na ilha de Hispaniola (atuais República Dominicana e Haiti), vários tripulantes desertaram e ficaram por lá. Seguindo viagem, um furacão perto de Cuba afundou dois navios e finalmente um reduzido grupo de expedição desembarcou na Flórida. Em terra as coisas não foram melhores, pois os espanhóis foram confrontados pelos nativos e não conseguiram se fixar no local, sendo obrigados a fugir para buscar abrigo no México a bordo de embarcações improvisadas.

A fuga também não deu certo e uma tempestade afundou os barcos, fazendo com que um grupo de sobreviventes acabasse indo parar na Ilha de Galveston e Cabeza de Vaca estava entre estes colonizadores azarados. As provações para sobreviver foram terríveis e muitos morreram doentes e de frio. Os exploradores restantes foram para a Ilha de Malhado, onde se depararam com os indígenas Karankawa, que dominaram os forasteiros e fizeram deles seus escravos.

Cabeza de Vaca buscou compreender e assimilar práticas dos indígenas, além de cooperar nas tarefas da comunidade servindo como curandeiro, o que foi bem aceito pelos nativos que favoreceram o espanhol com a liberdade após dois anos de convivência. Depois de negociar a soltura de seus companheiros, o grupo de quatro exploradores foi desbravar o território andando através dos atuais estados do Texas, Novo México e Arizona em busca de assentamentos de colonos onde pudessem obter abrigo, sendo os primeiros europeus a passar por tais regiões. No decorrer da travessia que durou outros quatro anos eles encontraram e conviveram com diversas tribos, seguindo jornada até encontrar uma expedição de espanhóis em Culiacán, no atual território mexicano em 1537.

De volta para casa, Cabeza de Vaca resolveu relatar suas experiências e escreveu o livro “La Relación”, publicado pela primeira vez em 1542. Além de narrar as aventuras dos exploradores, trata-se de uma das primeiras obras a respeito da vida e costumes indígenas, bem como um relato descritivo sobre a natureza e geografia dos lugares visitados pela pequena expedição de sobreviventes através da vastidão do continente. O escrito de Cabeza de Vaca também tem outros aspetos de pioneirismo, pois é ainda reconhecido como um dos iniciais registros etnográficos das Américas com observações detalhadas e sistematizadas sobre a cultura e comportamento dos diversos grupos indígenas, sendo realizado numa perspectiva empática com e humanista em favor dos povos analisados.

Mesmo antes da publicação de seu livro Cabeza de Vaca foi designado para desempenhar uma função oficial governando o domínio colonial de Rio de la Plata, na América do Sul, mas sua atuação não foi exitosa nem muito bem aceita por causa de sua postura moderada e protetora em relação aos indígenas da região, resultando em sua prisão após uma rebelião em 1544. Depois disso, retornou definitivamente para a Espanha e assumiu um cargo modesto na administração pública. Ele morreu entre 1457 e 1559.


Referências:

Um comentário

Os comentários estão fechados.