Recife despertou nas primeiras horas da manhã da Sexta-Feira da Paixão de 1595, pois em sua costa estava uma frota invasora de quinze navios sob o comando do corsário britânico James Lancaster (1554-1618) reforçada por outros três navios de bandeira holandesa. Os tempos eram instáveis, pois antes disso estourou a Guerra Anglo-Espanhola e o Brasil estava diante do domínio espanhol desde 1580, quando foi firmada a União Ibérica, o que fazia das terras colonizadas pelos portugueses alvos dos inimigos da Espanha.
O capitão James Lancaster era um homem de experiência e boa reputação como navegador militar e mercantil. Ele participou da vitoriosa atuação britânica na batalha contra a Armada Espanhola em 1588, liderou expedição para o Oriente, já havia abordado como corsário diversas embarcações luso-espanholas, tinha vivência nos negócios comerciais e falava português porque já trabalhou no reino lusitano, sendo por causa dessa vivência a pessoa ideal para o serviço. A expedição direcionada contra o Brasil, especificamente a capitania de Pernambuco, foi financiada por investidores devidamente informados do potencial lucrativo que tal empreitada poderia render. Outros capitães corsários e piratas faziam parte da iniciativa comandada por Lancaster, que tinha posição para negociar com seus parceiros náuticos suas contrapartidas pela participação na missão.
O grupo partiu do porto de Blackwall, em Londres, em outubro de 1594 e capturaram navios espanhóis e portugueses pelo caminho, embarcações que acabaram incorporadas à viagem e reforçando a esquadra. Nas proximidades do destino cruzaram com mais três urcas holandesas, mas acabaram negociando a participação de mais estes parceiros no ataque iminente. Os ingleses sabiam que Pernambuco encontrava-se vulnerável e que suas defesas seriam facilmente superadas, o que acabou se confirmando diante do imediato domínio imposto pelos invasores.
Embora a sede de Pernambuco fosse a vila de Olinda, o lugar ideal e estratégico para a invasão era o povoado de Recife, que já contava com mais movimentação e atividade em comparação à capital. Recife tinha sua já conhecida formação costeira que proporcionava excelentes condições de atracação e era dotado de um porto capaz de comportar os navios envolvidos na operação. A estrutura portuária foi dominada e imediatamente saqueada e de lá os combatentes puderam ampliar o perímetro controlado. Os ingleses permaneceram por quase um mês ancorados e vigiando a costa, repelindo as tentativas de reação por mar e terra e até reforçando sua posição negociando com corsários franceses que também se aproveitaram da situação para lucrar. Recife e Olinda sofreram saques e os navios dos corsários foram abastecidos com fartura de açúcar e pau-brasil, recursos de grande valor no mercado europeu.
O governador da capitania na ocasião era Jorge de Albuquerque Coelho (1539-1602), filho de Duarte Coelho, o primeiro donatário de Pernambuco. Ele vinha realizando um enorme esforço para ampliar a produção de açúcar, implantando vários engenhos que geraram significativas receitas e grande fluxo de exportação. Esta prosperidade de Pernambuco foi exatamente o que atraiu os invasores, que provocaram um significativo abalo na economia local.
Como decorrência do lucrativo sucesso do saque ao Recife, a experiência inglesas neste tipo de abordagem foi aprimorada e os investidores resolveram desenvolver suas atividades através da fundação da Companhia das Índias Orientais (1600), da qual o próprio Lancaster virou associado.
Em Pernambuco, apesar das iniciativas posteriores de reforçar as defesas, a investida dos corsários ressaltou a vulnerabilidade da região diante de ameaças invasoras, situação que os holandeses puderam explorar posteriormente.
Referências:



[…] James Lancaster e o ataque dos corsários ao Recife em 1595 […]