Flavio Biondo, um pioneiro da arqueologia

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

Durante o Renascimento ocorreu uma forte evocação da cultura Greco-Romana, ressaltada através de sua produção artística, filosófica, política e pela elaboração da ciência clássica fundada na razão. Estudiosos renascentistas mergulharam nas referências e fontes que foram negligenciadas durante a Idade Média, proporcionando a redescoberta de textos antigos e o interesse pela história e legado destas grandes civilizações antigas.

Este fascínio motivou trabalhos como o monumental estudo de Flavio Biondo (1392-1463), um humanista italiano que se dedicou a investigar o passado de Roma e exerceu uma notável influência sobre as abordagens das fontes e metodologias, tendo uma particular relevância no campo da arqueologia. Além disso, ele foi um dos primeiros estudiosos a considerar uma divisão entre a História Antiga, Medieval e Moderna, apresentando uma estrutura cronológica que acabou sendo característica para o estudo cronológico subsequente.

Depois de sair de sua terra natal, a cidade de Forlí, Biondo se instalou em Roma em 1433, onde começou a trabalhar como escritor e logo obteve posições a serviço do papado, trabalhando diretamente como secretário dos pontífices Eugênio IV, Nicolau V, Calisto III e Pio II. Nesta época ele desenvolveu um profundo interesse a respeito da história e das glórias do passado italiano através da referência inevitável da Civilização Romana. 

Através de sua experiência prévia como notário, profissional que lidava com documentação e sua validação como autêntica, adquiriu uma necessária percepção a respeito da relevância das fontes históricas como evidências fundamentais do passado. Esta visão foi determinante para a realização de um aprofundado levantamento de elementos para fundamentação de sua pesquisa sobre a história romana. Ele desenvolveu uma sistematização de variadas fontes escritas como documentos e obras clássicas, combinadas aos registros materiais como peças de arte, elementos da arquitetura e as ruínas da antiga cidade.

Em sua obra “De Roma instaurata” (Roma Restaurada) ele apresenta um verdadeiro guia da cidade a partir dos elementos arqueológicos, associando lugares a descrições e referências encontradas em textos clássicos. Na ocasião em que Biondo desenvolveu seu trabalho as ruínas de Roma não estavam recebendo os devidos cuidados e a exemplo disso o majestoso Coliseu, resquício do apogeu romano, chegou a ser dilapidado depois de uma parcial demolição por causa do terremoto de 1349, tendo material de sua construção saqueado para diversos fins. Biondo passou a chamar a atenção a respeito do patrimônio de Roma, ressaltando a necessidade da preservação e tratamento especial dedicado aos monumentos históricos, pois eles eram símbolos da grandiosidade e tradição da Itália. Neste trabalho o estudioso lançou importantes bases para a pesquisa arqueológica, merecendo um destaque como um pioneiro neste campo de estudos.

Sua obra “De Roma triumphante” (Roma Triunfante), embora não tenha a mesma abordagem a respeito do patrimônio material, explora fontes diversificadas que incluíam textos legais, epigrafia (registro escrito em material como pedra, cerâmica ou metal), numismática (moedas antigas) e também ruínas para a produção de uma análise histórica e que pudesse ressaltar o quanto os romanos foram sofisticados e capazes de criar uma sociedade com instituições avançadas e modelares para as necessidades dos novos tempos.

Apesar de Biondo ter sido um erudito que impulsionou a relevância das fontes documentais como recursos para o estudo da história, as fontes sobre sua vida pessoal são escassas. Ele morreu em 1463 deixando um relevante legado para os estudos históricos e para a arqueologia.


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