John Dee (1524-1608) foi um sábio britânico, figura controversa e interessante que prestou serviços à Inglaterra durante o processo de explorações marítimas. De origens galesas, filho de mercador abastado frequentador da corte de Henrique VIII, o jovem Dee já manifestou uma ávida disposição para o aprendizado e interesses variados para sua exploração intelectual. Frequentou as mais prestigiosas instituições educacionais britânicas como a King Edward VI Grammar School, em seguida nas prestigiosas St. John’s College e Trinity College, instituições da Universidade de Cambridge. Também realizou estudos e deu aulas em outras partes da Europa e por onde passou sempre se destacou academicamente por sua incrível erudição e desempenho.
Ele se especializou em matemática, astronomia e cartografia, além de se aprofundar a respeito das técnicas e instrumentos de navegação. Estes conhecimentos foram importantes para conseguir uma colocação como consultor a serviço da Coroa ainda durante o reinado de Maria I. Com a ascensão de Elizabeth I, sua reputação de conhecedor das complexidades científicas e mistérios dos astros foi muito valorizada. Ele foi um importante conselheiro da rainha, que costumava demonstrar profundo interesse a respeito de suas perspectivas e ensinamentos.
Durante seu serviço ele assumiu destacado papel no planejamento dos empreendimentos da navegação britânica, instruindo navegadores, prestando orientações cartográficas, formulando cálculos de rotas e desenvolvendo instrumentos de navegação. Foi uma grande referência científica no esforço inglês de atuar como uma potência marítima.
Além de seu trabalho como consultor técnico e científico, Dee ajudou a difundir conhecimentos como instrutor e através de sua notável biblioteca, que ele mantinha acessível para que outros estudiosos pudessem dispor de sua rica coleção de obras.
O cientista dedicado era uma das facetas de John Dee. Ele também tinha interesses menos empíricos, envolvendo-se com saberes místicos, astrologia, alquimia e práticas de ocultismo. Ele se aproximou do médium Edward Kelley e juntos realizaram rituais de comunicação espiritual e, dizem até, de supostas manifestações de contatos com anjos. Ele recorria ao uso de objetos como ferramentas rituais, a exemplo de espelhos, lâminas e outros artefatos tidos como mágicos. Também explorava símbolos, seus significados e poderes. Ele e Kelley fizeram viagens e apresentações pela Europa tentando demonstrar a veracidade dos fenômenos que proporcionavam.
Enquanto o Dee cientista era respeitado e levado a sério por autoridades e pelo meio acadêmico, sua atuação nos temas sobrenaturais era motivo de críticas e motivo para problemas. Ele chegou a ser preso ainda durante o reinado de Maria I acusado de blasfêmia, embora não tenha chegado a passar muito temo detido, mas outras implicações vieram depois. Ele teve três casamentos, todos afetados por seu estilo de vida e interesses. Dee realizava viagens em busca de descobertas científicas e místicas, conhecendo lugares e buscando livros e objetos raros e obscuros, situação que atrapalhava a estabilidade de seus relacionamentos. Entre as situações incomuns em sua experiência estava uma escandalosa associação com Edward Kelley, pois ambos chegaram a compartilhar suas próprias esposas com base na crença de que deveriam compartilhar suas vidas.
Depois de deixar o serviço à Elizabeth I para fazer uma busca pelos saberes mais profundos do ocultismo, sua posição social e reputação foram duramente abaladas. Ele perdeu o prestígio na corte e deixou de ser uma referência entre os cientistas e navegadores. Fora da Inglaterra ele também não foi acolhido, pois era visto com desconfiança e descrédito. Os custos dessas andanças e o ostracismo acabaram com sua fortuna pessoal. Já durante o reinado de Jaime I, ele tentou restaurar sua posição e reconhecimento, mas seus esforços não tiveram efeito. O outrora prestigiado homem da ciência passou a viver em péssimas condições financeiras, sua casa e biblioteca foram perdidas.
O erudito renascentista britânico morreu na miséria aos 81 anos de idade em dezembro de 1608. Seu legado foi sufocado pelo esquecimento até o século XX, quando pesquisadores voltaram a ressaltar sua importância durante a fase das explorações marítimas inglesas e como planejados de empreendimentos coloniais e até como autor da expressão “Império Britânico”.
Referências:


[…] John Dee, um gênio renascentista entre a razão científica e o ocultismo […]