O condado de Southampton, no estado de Virgínia, EUA, era uma região agrícola de intensa exploração escravista nos idos do início do século 19 e acabou sendo cenário de uma intensa rebelião em agosto de 1831 liderada pelo cativo Nat Turner (1800-1831).
Nat era filho de uma escrava nativa africana conhecida como Nancy e de pai desconhecido, adotando, já adulto o sobrenome de seu primeiro proprietário, o fazendeiro Benjamin Turner. De maneira incomum para os demais escravos, foi alfabetizado na própria fazenda inicialmente por um dos filhos de seu senhor e desde então passou a aprimorar sua instrução como autodidata através da Bíblia e de outros materiais aos quais teve acesso, sobretudo conteúdos religiosos, influenciando sua acentuada desenvoltura como devoto cristão.
Através de sua mãe ele foi assimilando uma repulsa grave a respeito da escravidão, sentimento que foi determinante para suas motivações. Assim, a associação entre sua religiosidade e revolta antiescravista forjaram nele a crença de que tinha um papel a cumprir, um chamado divino para lutar pela libertação da escravidão, alegando receber sinais que indicavam o que fazer.
Depois de mudanças de proprietários e fugas para meditações espirituais, ele anunciava novas visões que prenunciavam atos que ocorreriam no futuro, incluindo uma luta sangrenta entre brancos e negros na qual ele teria que desempenhar a condução de seus irmãos contra o mal exercido pelos senhores de escravos, representantes de Satanás. O sinal correto para que esta guerra fosse deflagrada foi interpretado como a transformação do dia em noite, um eclipse solar ocorrido em fevereiro de 1831.
Turner recrutou outros escravos através de um elaborado sistema de transmissão de informações e eles foram convencidos sobre suas visões e capacidade receber mensagens de Deus e eram igualmente esperançosos de vencer a escravidão e seus exploradores. E as primeiras vítimas da rebelião foi a família dos proprietários de Nat Turner, em 21 de agosto. Um grupo de cerca de 70 escravos rebeldes liderados por ele seguiram atacando propriedades, assassinando senhores e quem mais resistisse, se apossando de armas e cavalos, libertando escravos pelas fazendas por onde passavam e causando pânico nas autoridades. A matança promovida pelos participantes da rebelião atingiu a marca de 60 vítimas fatais em menos de 48 horas até ser contida pelas forças do governo, que eram muito mais dotadas de armas e mais preparadas para o confronto. A reação à revolta foi brutal e indiscriminada, deixando mais de 120 mortos – incluindo dezenas de escravos que sequer tomaram parte da revolta.
Nat Turner conseguiu escapar juntamente com um grupo de seus aliados e permaneceram escondidos até que finalmente um fazendeiro deu conta do paradeiro dos fugitivos, que acabaram capturados em 30 de outubro. Depois de um rápido julgamento, Turner foi condenado a morte e executado em 11 de novembro na forca, em seguida seu corpo foi esfolado, decapitado e esquartejado. Além dele, 56 companheiros ou suspeitos de participação nos eventos rebeldes foram igualmente executados e nos dias que se seguiram muitas punições a escravos foram realizadas, incluindo espancamentos, mutilações e até assassinatos por ódio e vingança. Em virtude do temor de que uma nova rebelião ocorresse, as medidas de controle e repressão se acentuaram na Virgínia e mesmo os abolicionistas tiveram receio de atuar na região.
Referências:


[…] A Revolta de Nat Turner: Um sangrento marco na luta contra a escravidão […]