Viracocha, o deus criador e mestre dos incas

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Só existia escuridão e desordem cósmica numa vastidão vazia e disforme antes que Viracocha ordenasse tudo e realizasse um magnífico trabalho divino e criativo.

Os incas acreditavam que o poderoso Viracocha emergiu da escuridão e depois de sua aparição iniciou um trabalho fabuloso. Sua primeira ação foi iluminar o mundo, criando a luz e encerrando o domínio da escuridão profunda. Para isso ele colocou o Sol no céu e além dele as demais estrelas, atribuindo movimento astral e o ciclo do dia e noite. Depois que a escuridão completa foi extinta, a imensidão foi preenchida pelas diferentes formas de relevo, banhadas pelos mares, rios e lagos, sobretudo o Titicaca, considerado como sagrado pelos incas por ter sido o ponto de onde Viracocha emergiu – além de estar associado a outras divindades como Manco Capac e Mama Ocllo. 

Ele espalhou plantas e animais nas terras e águas, diversificando as formas de vida em sua obra. Então o deus criador se mostrou artesão da existência ao esculpir figuras de pedra, dando vida a tais esculturas que foram os primeiros homens e mulheres. Em outra versão, ele criou gigantes e mandou habitar a terra, mas não ficou satisfeito com eles e resolveu inundar o mundo com um dilúvio para repovoar com variações menores deles, os indígenas antepassados dos incas.

Sendo distintos dos demais seres vivos, os humanos exigiram mais providências por parte do deus criador, então Viracocha resolveu assumir a forma e natureza de humano para influenciar os mortais através de ensinamentos. A divindade assumiu a condição de mestre, instruindo a respeito de como desenvolver a agricultura, a tecelagem, a construção, e atividades que pudessem fazer sua criação prosperar. Ale viajou por onde existiam pessoas para levar o conhecimento, fundando cidades, estabelecendo leis e orientando sobre a fé, integrando os povos andinos como um deus entre os homens.

Quando concluiu que preparou de forma suficiente a humanidade, a divindade partiu caminhando sobre as águas oceânicas indo para o Oeste até que os ancestrais que testemunharam sua ida vissem Viracocha desaparecer no horizonte distante. Mas a partida do criador não era sinal de abandono, pois ele prometeu voltar e seu retorno passou a ser um tema fundamental na crença dos povos incas, alimentando a fé e esperanças entre os nativos por gerações.

A expectativa em torno da volta de Viracocha confundiu muitos entre os incas quando os dominadores espanhóis apareceram, pois ao se depararem com os europeus não faltaram interpretações de que aqueles estranhos montados em cavalos (animais que não existiam no continente até então) e usando armaduras metálicas pudessem ter relação com a vinda iminente da divindade. Para a desgraça dos indígenas, Viracocha não chegou com espanhóis.