Gesche Gottfried, a implacável serial killer que matou a família, amantes e amigos

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

A alemã Gesche Gottfried (1785-1831), conhecida como “O Anjo de Bremen”, foi uma assassina que durante muito tempo foi vista como uma figura acima de qualquer suspeita, apesar de sua frieza e disposição de tirar vidas. Nascida Gesina Margarethe Timm, ela foi uma jovem encantadora que apreciava cantar e dançar, mas muita gente reconheceu nela uma inclinação terna de amparar os doentes, o que na verdade escondia uma sinistra situação. Conta-se que ela descobriu o arsênico em pó, veneno costumeiramente usado contra pragas, ao ajudar a mãe, uma costureira que tinha o mesmo nome da filha, a conter uma infestação de ratos na casa da família e posteriormente tomou gosto pelo uso macabro do produto, aplicando em suaves quantidades no envenenamento de suas vítimas humanas. 

Depois que seu pai, o alfaiate Johann Timm, pressionou para que a filha se casasse, ela foi viver com Johann Miltenberg e tiveram três filhos. mas o marido revelou ser uma pessoa irresponsável, que comprometia o sustento da família consumindo o que tinham em farras e bebedeiras. O homem chegou a receber uma herança, mas também não era zeloso a respeito da administração do que recebeu. Ele só parou de gastar quando ficou doente, com uma intensa dor estomacal que foi se agravando até sua morte, em outubro de 1813.

Gesche estava viúva e queria se casar novamente, mas os pais eram contrários e ela tinha três crianças para cuidar. Com um novo pretendente à vista, um homem que lhe disse que não pretendia cuidar de filhos que não eram seus, a mulher resolveu repetir o procedimento usado para se livrar do primeiro marido. Recorreu à mistura de gordura e arsênico conhecida como “mäusebutter” ou “manteiga de rato”, ministrada através de pequenas poções adicionadas à alimentação que servia às suas vítimas. Entre maio e setembro de 1815 morreram, sequencialmente, sua mãe, suas filhas Johanna e Adelheid, seu pai, e seu filho Heinrich. A vizinhança ficou consternada pelo suposto sofrimento de Gesche, que perdeu tantos entes familiares em tão pouco tempo. Mas era época de uma epidemia de cólera e ninguém suspeitava que a chorosa mulher que amparou seus pais e filhos na doença era a causadora de suas mortes.

Com os obstáculos familiares removidos de sua vida, ela enfim conseguiu se casar com Michael Gottfried. Tudo parecia bem, mas ainda havia um mais um parente para ser eliminado. Seu irmão gêmeo Johann, que esteve ausente durante muito tempo por causa do serviço militar distante da terra natal, reapareceu fazendo muitas perguntas e reivindicando sua parte na herança, porém acabou herdando o mesmo fim trágico dos pais e morreu envenenado pela irmã em junho de 1816. 

A essas alturas não era seguro imaginar que Gottfried pudesse ter um fim diferente se contrariasse a esposa… e o pior aconteceu quando ela engravidou e o segundo marido ameaçou ir embora. Gesche adicionou a mäusebutter na comida do companheiro, que também ficou gravemente doentes e recebeu seus cuidados até morrer em junho de 1817. Ela herdou os bens do marido, que conquistou um considerável patrimônio com o comércio de vinho. Ao final da gravidez, o bebê que esperava não resistiu ao parto e Gesche resolveu viver em paz por algum tempo.

Desde então ela voltou a ter um envolvimento amoroso com um certo Paul Zimmermann, mas o infeliz teve o mesmo fim de seus parceiros anteriores em 1823. Depois dele foram as vezes da amiga Anna Meyerholz e do vizinho Johann Mosees, mortos em 1825. No ano seguinte ela resolveu vender sua casa para o casal Johan e Wilhelmina Rumpff, que resolveram acolher a antiga proprietária em sua casa na posição de governanta. Wilhelmina morreu tal qual as anteriores vítimas de Gesche, mas o viúvo ficou desconfiado depois de perceber algo estranho em sua refeição e depois de submeter a substância a um exame descobriu que se tratava de arsênico.

Diante da situação de suspeita, a assassina resolveu sair da casa e foi se abrigar na residência da senhora Beta Schmidt, uma amiga que trabalhava como empregada doméstica, mas a anfitriã e sua filha Elise acabaram mortas em maio de 1827. Agora vista como uma criminosa pelas autoridades locais, Gesche fugiu para Hannover e lá, dois meses depois, fez sua última vítima, Friedrich Kleine, outro amigo que teve a triste sorte de fazer parte do círculo de relações da envenenadora.

Ela acabou detida em março de 1828 e foi mantida na prisão até sua execução em 21 de abril de 1831. Ela foi decapitada em praça pública e no local exato de sua morte é mantido um símbolo macabro até hoje sinalizado pela “Pedra Negra” ou “spuckstein” (pedra de cuspir), um bloco no calçamento da rua sobre o qual as pessoas adquiriram o costume de cuspir como gesto de repulsa à memória da matadora.

Especula-se, a partir dos depoimentos de Gesche Gottfried, que ela tinha um distúrbio chamado Síndrome de Münchhausen por Procuração, que consiste em uma condição que leva a pessoa a sentir uma necessidade extasiante de manter alguém em estado vulnerável e debilitado sob seus cuidados enquanto provoca o agravamento de sua situação.


Referências:

2 comentários

Os comentários estão fechados.