Mary Anning, uma pioneira da paleontologia

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

A paleontologia estuda a vida no passado geológico através dos fósseis. Os resquícios pré-históricos da vida sempre fascinaram e despertaram curiosidade e já na Grécia Antiga chamavam a atenção, pois acreditavam que os fósseis de dinossauros eram provenientes de criaturas míticas. Os naturalistas renascentistas começaram a fazer os primeiros estudos e catalogações de antigos restos fossilizados e essa prática evoluiu até o surgimento um nicho especial de negócios para comercialização de fósseis como itens curiosos para colecionadores no século 18 e, finalmente, para o desenvolvimento de métodos e teorias científicas no século 19, quando surgiu efetivamente como um campo de estudos científicos, atraindo pessoas de mentes curiosas e espíritos desbravadores como a britânica Mary Anning (1799-1847).

Mary Anning foi uma expoente da paleontologia, realizando achados e estudos que representaram grande contribuição para a ciência, apesar das limitações e dificuldades que enfrentou em seu trabalho. Mary nasceu e atuou em Lyme Regis, na costa da Inglaterra, que era uma região incrivelmente farta em fósseis de répteis marinhos e peixes pré-históricos, além dos voadores pterossauros. Pegadas de grandes animais também foram identificadas em Lyme Regis, que se notabilizou como um campo muito especial para a realização de descobertas paleontológicas.

Quando criança, Mary Anning já vasculhava a região para coletar fósseis acompanhando o pai, que juntava material encontrado para vender para colecionadores. Aos 12 anos ela encontrou um esqueleto de um ictiossauro, réptil marinho semelhante a um peixe, sendo então ao primeiro achado inteiro de um espécime desse tipo no mundo. Com o passar do tempo ela foi desenvolvendo uma prática de observação e identificação bastante apurada e com isso o interesse pelos fósseis passou a ser realizado com preocupações científicas. Apesar de seu interesse pela ciência, ela só recebeu instrução formal elementar suficiente para ler e escrever, mas compensou a falta de preparo especializado com a disposição de aprender por conta própria, indo em busca de tudo o que pudesse estudar sobre o objeto de seu interesse científico e recebendo instruções dos colecionadores com quem tinha contato e para quem vendia os fósseis que encontrava. Seu conhecimento sobre os métodos de identificação do material e procedimentos para recolhimento foi adquirido pela prática.

Ela precisava vender o material que achava e identificava para poder se manter, pois sua família era pobre e dependia de qualquer fonte de recurso disponível, principalmente depois da morte de seu pai, Richard Anning, quando sua atividade passou a ser o principal meio de sustento da família. Colecionadores particulares, instituições como museus e centros de estudos eram os compradores dos fósseis que ela negociava, mas sem conseguir assegurar condições financeiras seguras e regulares. Mesmo com seu conhecimento, Mary era excluída dos círculos de especialistas e sociedades científicas, o que que limitava seu aperfeiçoamento como pesquisadora, impedia oportunidades, acesso a recursos e meios para poder publicar seus estudos, acabando por não ter tido nenhuma obra científica escrita. A dificuldade de seu uma mulher num contexto de exclusão dominado por homens era relevante e muitos de seus achados paleontológicos eram expostos sem que ela fosse creditada.

Apesar de ter sido atingida por um raio e conseguir sobreviver, a saúde de Mary era frágil. Ela teve um câncer de mama e o agravamento da doença impediu que ela continuasse trabalhando, embora um fundo de pensão em seu benefício tenha sido criado pelos membros da Sociedade de Geologia de Londres, apesar da instituição não admitir o ingresso de mulheres em seus quadros. Ela morreu em 1847 aos 47 anos de idade. Mary não casou nem teve filhos.

Seu reconhecimento como paleontóloga só ocorreu postumamente, quando, enfim, sua contribuição como cientistas passou a ser creditada por outros pesquisadores da paleontologia e geologia. Muitos dos fósseis que ela descobriu, classificou e estudos estão expostos em diversas partes do mundo em museus e centros especializados.


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