Moll Cutpurse: Contra a lei e as convenções sociais no século XVII

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

Londres, a capital inglesa, era uma cidade em franca expansão no século XVII. Os limites urbanos eram ampliados com a incorporação de áreas anteriormente rurais como Whitechapel, Clerkenwell e Southwark, que passaram a abrigar um crescente contingente populacional em ruas estreitas e sujas. O abastecimento de água ainda era um problema, embora já tivesse início uma arrojada implantação de um serviço de distribuição através de encanamentos, também estava sendo introduzido um sistema de iluminação com lâmpadas a óleo e atividades comerciais eram intensas. Problemas também eram crescentes, com pessoas vivendo na miséria, surtos de doenças e incêndios, como o desastroso incidente de 1666.

A atuação de delinquentes também era uma rotina numa cidade desprovida de uma força policial formal. Gangues atuavam pela cidade e até crianças e adolescentes desamparados recorriam aos delitos para sobreviver. Mulheres também faziam parte do cenário fora-da-lei e neste ambiente instável uma figura tornou-se conhecida entre os bandidos londrinos, a malfeitora Mary Frith, mais conhecida como Moll Cutpurse.

Moll (um apelido então comum para Mary) nasceu entre 1584 e 1589 e desde cedo demonstrou um comportamento desafiador para uma moça. Ela não se interessava pelos afazeres e hábitos tipicamente femininos e gostava de se envolver com o cotidiano dos rapazes, praticando coisas que se esperava do gênero masculino. Quando ficou órfã ela teve que se virar por conta própria num ambiente hostil e turbulento, se envolvendo no submundo da marginalidade para sobreviver. Ela passou a usar roupas masculinas, transgredindo as normas sociais e expectativas de conduta de gênero e a praticar delitos que lhe valeram o “sobrenome” Cutpurse, referente literal à prática de cortar bolsas para roubar.

Sua reputação como assaltante e batedora de carteiras era notória. Hábil e esperta, Moll perambulava pelas ruas atacando suas vítimas desavisadas e também desenvolveu a atividade de receptadora de bens obtidos por meio de roubos e furtos. Ampliando sua prática delituosa, ela atuou como cafetina, negociando e arranjando encontros sexuais clandestinos para homens e mulheres casadas.

Briguenta, beberrona e de péssimos hábitos, Moll acabou tendo a reputação de “primeira mulher fumante da Inglaterra”, o que ela motivo de orgulho para ela, que não desgrudava de seus cachimbos. Sua ousadia a levou até os palcos teatrais, que eram reservados para homens, cantando, dançando, tocando alaúde e interpretando papéis. Ela chegou até a se a casar, numa união de fachada para se beneficiar do status de “senhora”.

Tendo diversos problemas com as autoridades, Moll acabou sendo detida num hospício, mas nem isso foi o bastante para conter sua personalidade atrevida, irreverente e propensa aos transgressores atos ilegais. Sua figura inspirou peças, anedotas e caricaturas, fazendo dela uma espécie de celebridade marginal na cidade.

Moll Cutpurse morreu em 1659.  


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