As cortes dos soberanos monárquicos eram ambientes para o desenrolar de tramas políticas, intrigas palacianas, relacionamentos conturbados, situações comprometedoras, além dos gracejos e prazeres da vida ao redor do poder e do dinheiro. Monarcas estavam cercados de familiares, assessores, serviçais, amantes, amigos e até inimigos em suas cortes, mas por lá também poderiam ser encontradas as figuras dos bobos ou bufões, que desempenhavam papéis que podiam ir além do entretenimento real.
Artistas que se prestavam ao desempenho cômico e performático já eram comuns nas cortes do mundo antigo em diversas partes, seja no Egito ou na Grécia, em Roma, no Oriente e mesmo entre os Astecas, mas os bobos da corte europeus se consagraram como mais marcantes referências tomaram forma na Idade Média europeia e no Renascimento. Os bobos animavam o cotidiano das cortes com suas interpretações, danças, músicas, acrobacias e anedotas, sendo artistas hábeis em variadas práticas de entretenimento. Um artista que cumpria a função de bobo frequentemente era dotado de uma rica referência de obras literárias, tradição oral, lendas e costumes de seu povo e sua cultura, além de conhecedor dos aspectos sérios da política e relações de poder. O humor desempenhado por eles poderia ser ingênuo, apelativo e mesmo dotado de sofisticadas sátiras políticas e sociais, muitas vezes trazendo sabedoria disfarçada de loucura e travessura.
Alguns bobos desfrutavam da intimidade das famílias reais, chegando a posições privilegiadas de valorização pelos monarcas ao ponto de serem reconhecidos como interlocutores sinceros em meio a um ambiente repleto de bajulação. O francês Triboulet fez fama e fortuna como bufão dos reis Luís XII e Francisco I, mas sua acidez crítica também o colocou em apuros diante de poderosos mesmo com a proteção dos monarcas. O inglês Will Somers serviu ao poderoso Henrique VIII e era muito bem-quisto pelo monarca e a rainha Elizabeth I inovou tendo aos seus serviços uma boba, a criativa Beatrice Ferrar. Na corte de Felipe IV da Espanha os artistas eram muito presentes e os bobos gozavam de valorização e proteção, principalmente as trupes de anões.
Entre os séculos XIV e XV a carreira dos bufões conheceu seu auge, mas no decorrer do final do Renascimento a presença deles passou a diminuir em função da mudança dos gostos e aprimoramento dos espetáculos teatrais e musicais nas principais cortes e casas de espetáculos da Europa. Mesmo assim, os multiartistas de roupas coloridas e engraçadas não sumiram completamente e deixaram um legado que influenciou os palhaços modernos e artistas performáticos diversos.

