Wendigo, o terror do inverno e do egoísmo entre povos indígenas na América do Norte

(Representação visual gerada pela IA DALL-E)

Os rigorosos invernos em territórios da América do Norte representavam uma fase de dificuldades para os povos nativos, pois impunham limitações como a produção de alimentos, além dos sofrimentos que o frio extremo proporcionava. Os povos Algonquinos, espalhados pelos atuais EUA e principalmente presentes na região dos Grandes Lagos, na área do subártico canadense, conceberam crenças, medos e ensinamentos a respeito das condições impostas pela estação fria e nesta cultura emergiu a figura mítica de Wendigo.

Resistir ao longo e implacável inverno era uma missão que exigia das tribos e nações algonquinas, como os Ojibwe (Chippewa), Cree, Innu, e Algonquin, entre outras, cultivavam a crença de que a coletividade era o princípio para encarar a fase do frio que desafiava a sobrevivência, pois o inverno era uma fase de escassez. Em tempos de restrições, a individualidade e o egoísmo representavam uma ameaça ao coletivo e a importância da partilha dos recursos e do esforço conjunto para os preparativos e convívio com o inverno preservaria a integridade das comunidades e a protegiam de outra ameaça: o temível ser de aspecto cadavérico com dentes e garras afiados que poderia surgir ou possuir alguém para promover o terror, carnificina e canibalismo.

No silêncio invernal os gritos assustadores de Wendigo que ecoavam ao redor das povoações eram prenúncio de desespero. Povos de forte tradição nas crenças sobre a relação entre o mundo físico e o sobrenatural, os Algonquinos acreditavam que o ente maligno do inverno era atraído pela ganância daqueles que pensavam excessivamente nas próprias necessidades durante a fase de dificuldades que era coletiva.

Os nativos se preparavam para a estação congelada estocando alimentos. Entre aqueles que praticavam a agricultura, os recursos que poderiam ser processados para o armazenamento e consumo durante a fase crítica, a carne da caça era ressecada para garantir a durabilidade do recurso e a produção das peles, construções de abrigos e providências preparativas eram atribuição que contavam com a cooperação coletiva. Estoques individuais e omissão de recursos eram considerados atos moralmente condenáveis e potencialmente atrativos para a aparição de Wendigo, pois em tempos de condições extremas e de escassez severa era preciso assegurar que todos tivessem iguais condições para lidar com as limitações impostas pelo clima.

Os Algonquinos conheceram episódios de extrema necessidade e de falta de víveres que causaram a radical ocorrência do consumo de cadáveres humanos como forma sobreviver. O canibalismo era um tabu entre eles e quem praticava estes atos estava sob a direta influência de forças perversas e essa era uma das atuações de Wendigo manifestado sobre aqueles que recorriam ao extremo de comer os restos de outros seres humanos.

Além de afastar Wendigo pela ação coletiva e ensino moral a respeito da solidariedade, existiam rituais praticados pelos xamãs que ajudavam a afastar a entidade canibal, incluindo até exorcismos para livrar os possuídos o espírito do devorador de pessoas.

O mal representado por Wendigo estava diretamente ligado ao individualismo, assim a coletividade não era apenas um valor importante e capaz de assegurar a sobrevivência em tempos difíceis, mas era uma proteção contra a maldição do egoísmo representada pelo canibal do inverno.