Nascida Catherine Deshayes (1640-1680), a francesa conhecida como La Voisin, era casada com joalheiro Antoine Monvoisin, dono de um pequeno negócio em Paris e ficou conhecida por seu envolvimento com práticas de ocultismo e pela atuação como envenenadora profissional.
Catherine descobriu desde cedo o interesse pelas artes ocultas, além de astrologia e adivinhações, iniciando sua experiência prestando serviços como vidente, cartomante e quiromante. Estas atividades despertaram o interesse de diversos clientes que acreditavam nas orientações esotéricas e que também solicitavam serviços que iam além das adivinhações. Assim, ela ampliou seus serviços para atender as demandas de quem buscava as práticas ocultas para proporcionar atos contra desafetos e obter objetivos desejados com o apoio sobrenatural.
La Voisin vendia amuletos de supostas funções mágicas, celebrava rituais misteriosos, realizava partos e abortos e preparava as mais diversas poções, como afrodisíacos e, claro, venenos. Para adquirir esta prática, ela se aprofundou nos misteriosos saberes do submundo do ocultismo, virando especialista em ervas e no preparo de substâncias voltadas para as mais diversas finalidades e investiu nos complexos conhecimentos da alquimia.
Ela também aprimorou sua experiência mística ao mergulhar no obscuro mundo da feitiçaria, promovendo rituais como a “missa negra” e se associando a figuras do tenebroso e renegado círculo dos invocadores de demônios.
A atividade da mulher acabou virando uma próspera atuação, pois entre seus clientes estavam pessoas das mais altas esferas da sociedade parisiense, inclusive da corte. La Voisin passou a obter bons pagamentos e com isso fazer riqueza para proporcionar uma vida de luxo. Seu cotidiano passou a ter intensa agitação social através de festas, além dos escândalos porque ela era alcoólatra e tinha várias e conhecidas aventuras amorosas, pois ela colecionou amantes e mantinha uma conduta despudorada para os padrões da época, principalmente para uma mulher casada e mãe de quatro crianças. Sua vida sem restrições e sua fama de envolvimento com práticas e conhecimentos malditos também afetavam sua reputação e causava reações discriminatórias que afetavam sua família.
Lidar com o atendimento de interesses e desejos irrestritos e explorar meios igualmente ilimitados para satisfazer tais demandas objetivando lucro sem qualquer reserva é uma operação que tem seus riscos e, finalmente, La Voisin se deparou com eles.
Entre sua clientela estava a famigerada cortesã Madame de Montespan, conhecida amante do poderoso rei Luís XIV. La Voisin foi contratada pela nobre para realizar práticas místicas com o propósito de “enfeitiçar” o monarca para proporcionar seu amor pela amante e a continuidade dos vínculos entre as duas era marcada pela manutenção da realização de rituais com o mesmo propósito, além do fornecimento se “poções do amor” que eram secretamente servidas ao rei. Aparentemente estas medidas não estavam sendo eficazes e o mulherengo Luís XIV até se afastou da Madame de Montespan e passou a se envolver com outras mulheres, o que despertou a fúria da cortesã adepta das artes ocultas.
Na ocasião, pessoas na corte começaram a morrer envenenadas e a situação conhecida como “O Caso do Veneno” gerou pânico e motivou uma investigação, que apurou a operação de ocultistas e produtores de venenos em Paris e no entorno da cidade. La Voisin foi uma das pessoas implicadas pelo levantamento. Alegações associavam a ocultista como integrante de plano de assassinato de pessoas da corte e até da rainha, além de revelada a conexão e os serviços prestados para Madame de Montespan.
La Voisin caiu em desgraça, acusada de bruxaria e envenenamento. Ela foi executada na fogueira, tradicional método de punição aplicada contra bruxas. Em decorrência do episódio, as autoridades passaram a perseguir e punir os diversos praticantes de ocultismo em atuação na França.


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