O arquipélago que constitui a atual Samoa é composto por duas ilhas principais, Savai’i e Upolu, além de várias outras menores, e está localizado no Pacífico Sul, situando-se a leste da Austrália e ao nordeste da Nova Zelândia. A ocupação das ilhas samoanas remonta a cerca de 3 mil anos atrás e ao longo dos tempos viram florescer uma cultura rica e complexa de tradições marcantes.
Os clãs dos samoanos praticavam a agricultura e pesca para sobreviver e devotavam ao universo místico uma grande importância. Na diversificada tradição mitológica samoana muitos ensinamentos eram difundidos para a vida do povo através dos exemplos e ações de seres poderosos. Os seres sagrados eram conhecidos através da transmissão oral das antigas narrativas e celebrações que muitas vezes envolviam festividades como danças, música e oferendas de alimentos, peças artesanais ritualísticas e outros artefatos, dispensando as ocorrências de sacrifícios de seres vivos. A mitologia de Samoa é repleta de deuses (atua) e de espíritos (aitu) com variados poderes e atribuições, predominantemente vinculados aos elementos cósmicos e da natureza que rodeava o povo.
No conjunto mitológico também estão presentes as figuras de heróis e heroínas marcantes cujas façanhas exemplificam virtudes, força e sabedoria. Entre estas figuras lendárias está Nafanua, uma guerreira poderosa. Ela teria nascido numa aldeia na ilha de Savai’i, emergindo diretamente de uma fenda na terra e vindo de Pulotu, o submundo habitado pelos espíritos e por divindades, trazendo consigo armas dadas pelos deuses que abitam o além. Segundo a crença, ela lutou nas batalhas que resultaram na posterior unificação das tribos e formação de um só povo pacificado depois dos conflitos.
Enquanto viajava pelas ilhas travando lutas e derrotando os oponentes facilmente com suas habilidades superiores de combate, ninguém cogitava que aquela figura de tamanha força física e destreza era uma mulher, até acidentalmente o manto que usava para encobrir o corpo foi levantado pelo vento durante uma batalha, revelando seus seios. Depois do incidente ela deixou de omitir sua identidade e seguiu em sua missão, mas muitos guerreiros se sentiram humilhados porque foram derrotados em luta por uma mulher.
Depois de vencer a guerra, ela acabou assumindo o papel de governante. Comandando o povo unificado, ela demonstrou que além de força física e habilidades na luta, também era sábia e capaz de solucionar questões como divisão das terras e promoção da justiça.
Nafanua costuma ser descrita e representada como uma mulher de porte atlético e forte, de postura imponente e de personalidade de uma líder. Nos tempos da difusão da narrativa mítica de Nafanua as mulheres podiam deter títulos e funções governativas sobre o povo nas aldeias, além de significativa atuação na condução dos ritos religiosos, nos ofícios e atividades importantes para a sobrevivência da população como na agricultura, nas funções domésticas e atividade de criação dos artefatos cotidianos. As mulheres difundiam as tradições e saberes através da educação. Os papéis de homens e mulheres eram complementares e tratados sem hierarquia de status.
Apenas com a chegada dos europeus e do cristianismo o equilíbrio foi abalado pela alteração da tradição que implicou na mudança dos papéis de gênero. Diante desse cenário, a figura de Nafanua remete a uma situação na qual as mulheres samoanas viveram em um contexto histórico e cultural diferente, no qual uma guerreira divina venceu as divergências e conduziu um povo inteiro.

