Cláudio, o imperador improvável de Roma

(Representação visual gerada pelas IAs Midjourney e Leonardo)

Nascido Tiberius Claudius Drusus em Lugdunum, na Gália (hoje Lyon, França) em 10 a.C. Tiberius Claudius Drusus era filho do reconhecido general e magistrado Nero Claudius Drusus, irmão do imperador Tibério, e de Antonia Minor, filha do famoso Marco Antônio, parceiro de Júlio César e membro do Segundo Triunvirato, em seu casamento com Otávia, irmã do imperador Augusto. Apesar de ser um autêntico membro da alta nobreza romana, o jovem Cláudio era visto como um vexame na família real, sendo discriminado por ter deficiências físicas que provocaram problemas motores, afetando os movimentos de suas mãos, além de também ter dificuldades de fala. O desprezo era tamanho que a mãe e a avó materna tratavam o futuro imperador de maneira degradante. Para a mãe, segundo o biógrafo Suetônio, Cláudio “não havia sido acabado, mas apenas esboçado pela natureza, e quando chamava alguém de imbecil dizia sempre ‘que era mais cretino que seu filho Cláudio'”. Ele era excluído das aparições públicas da família imperial e até sua formação foi negligenciada, pois duvidavam de sua capacidade. Enfim, a possibilidade de vê-lo consagrado como imperador um dia era simplesmente improvável, mas o destino acabaria contrariando as probabilidades.

Cláudio era dotado de uma inteligência incomum, que foi importante no desenvolvimento de sua sólida base intelectual, pois ele se dedicou aos estudos e à erudição como alternativa à sua marginalização familiar e pouco prestígio na carreira pública. Versado em latim e em grego, ele era profundo conhecedor de história, sendo autor de diversas obras, embora seus trabalhos não tenham sobrevivido até os dias atuais. Ele também era avançado conhecedor de direito e legislação, além de possuir elevados conhecimentos sobre administração pública. Apesar de tamanha capacidade intelectual, seu potencial não era aproveitado e ele continuava na obscuridade e dedicando-se sobretudo aos estudos.

Sua ascensão ao posto de imperador foi inesperada e o caos provocado pelo governo Calígula, seu sobrinho, acabou gerando o desfecho no qual a falta de sucessores fizeram do recluso e desprezado Cláudio o homem mais poderoso do império. Calígula foi assassinado por membros de sua própria guarda, deixando o trono vago, e logo após o assassinato, membros do Exército localizaram Cláudio, que estava escondido no palácio, e aclamaram o discriminado nobre como novo senhor de Roma, aos 50 anos de idade.

Agora denominado Tiberius Claudius Caesar Augustus Germanicus, no exercício do poder, a sua sólida base de conhecimentos permitiu que o imperador fosse capaz de administrar a complexa estrutura estatal com plena compreensão das necessidades e processos para fazer o império funcionar e progredir. Ele promoveu reformas administrativas e judiciais que aperfeiçoaram o Estado, exercendo a função de julgador, costumava dedicar-se com destreza e critérios técnicos diante de suas decisões. Entre suas definições judiciais estavam medidas que asseguravam restrições aos atos abusivos de senhores sobre os escravos e até condições para proporcionar a libertação de cativos como um direito. Como promotor de obras, investiu em construções estruturais como aquedutos e portos. O gestor sofisticado também se interessou por conquistas militares e em 43 conseguiu dominar a Britânia.

Em contraste ao exitoso governo, sua vida pessoal não era conduzida com a mesma habilidade. O imperador de grandes qualidades intelectuais era suscetível a manipulações por parte de pessoas próximas. Ele foi casado inicialmente com Pláucia Urgulanila, uma união movida por interesses políticos e familiares quando ela ainda era jovem. Seu casamento com Valéria Messalina foi motivo de escândalos que envolviam o comportamento libertino da imperatriz, que era notoriamente conhecido pelos romanos e afetavam a reputação do soberano. Massalina também agia através de interferências em assuntos palacianos e usando de seu poder e influência para perseguir desafetos e favorecer aliados, culminando com um complô contra o próprio marido. Cláudio acabou determinando a execução da esposa e logo em seguida se casou, em 49, com sua sobrinha Agripina, a Jovem, irmã de Calígula. A união que aparentemente representava um fortalecimento da família imperial, proporcionou para a nova imperatriz condições para colocar em prática seus próprios planos de poder. Ela articulou o posicionamento Nero, seu filho de um casamento anterior, como herdeiro de Cláudio. Nero foi adotado como filho por Cláudio e teve prioridade sucessória sobre o próprio filho biológico do imperador, o jovem Britânico.

Finalmente, assegurando a transmissão de poder para Nero, suspeita-se que Agripina recorreu aos serviços da envenenadora Locusta para matar o marido. Cláudio teve uma morte agonizante no ano 54. Ele tinha 63 anos de idade.

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