Jure Grando, o primeiro “caso real” identificado de um vampiro

(Representação visual gerada pela IA Midjouney)

Jure Alilović (1579–1656) era um modesto camponês ou pedreiro da aldeia de Kringa, na Istria, atual Croácia. Ele ficou mais conhecido como Jure Grando (“Grandão”), pois era um indivíduo de estatura alta. Ele morreu de alguma doença, deixando esposa e filhos, mas a situação de infortúnio familiar não foi desfecho da história de Jure Grando, pois aparentemente o homem voltou do mundo dos mortos e continuou sendo visto pela comunidade ao longo de 16 anos depois de ser sepultado prenunciando péssimas e agourentas ocorrências.

O defunto começou a aparecer fisicamente para Ivana, a viúva, que certamente ficou estarrecida com a aparição anormal de seu marido morto, que retornou também agressivo e disposto a violar sua antiga parceira, pois Jure reaparecia seguidamente em busca dela para praticar sexo não consensual. Os demais moradores de Kringa também começaram a testemunhar o gigante defunto perambulando pelas ruas ao longo das noites. O vislumbre assustador de um homem que todos sabiam ter morrido que estuprava a viúva e vagava por toda parte não era bastante para atormentar a comunidade, pois ele começou a bater nas portas das casas e estranhamente algum morador das residências visitadas morria poucos dias depois.

O pânico era grande. Os filhos de jure fugiram da cidade, o padre local fez missa diante do túmulo e o maldito morto ambulante apareceu em sua casa. Decidiram abrir a sepultura para cravar uma estaca no peito do cadáver incrivelmente preservado, mas jure continuava fazendo suas aparições medonhas. Repetiram a prática em vão tempos depois e o tormento continuou a se repetir até que enfim resolveram arrancar sua cabeça, providência que conseguiu acabar com a atuação maligna do morto errante.

Conforme as lendas da região, Jure era um strigoi ou štrigon, entidade sinistra que costumava ser qualificada na época como um tipo de vampiro ou morto-vivo. As narrativas a respeito dos acontecimentos macabros ocorridos em Kringa viraram assunto recorrente e finalmente foram registradas pelo historiador esloveno Janez Vajkjard Valvasor em 1689 em um estudo grandioso no qual ele reuniu episódios históricos e registros que faziam parte do acervo de situações que eram transmitidas entre o povo pela oralidade. Valvasor fez os primeiros registros sobre vampiros e Jure Grando pode ter sido aquele pioneiramente identificado mesmo que suas características ainda não apresentem os detalhes que o padre francês Antoine Augustin Calmet considerou na formulação descritiva que ajudou popularizar este tipo de ser obscuro no imaginário coletivo.


O vídeo abaixo é uma animação inspirada no texto de Janez Vajkjard Valvasor