Iara: Um mergulho nas lendas das sereias

(Representação visual gerada pelas IAs DALL-E e Leonardo)

As águas abrigam encantos e mistério para muitos povos, que elaboraram suas lendas e mitos sobre entidades aquáticas variadas, algumas benéficas e outras perigosas. As sereias fazem parte deste universo sobrenatural das águas. Figuras míticas presentes em diversas culturas ao redor do mundo, representam um fascinante exemplo de como uma ideia pode se manifestar de maneiras variadas, refletindo os valores, medos e admirações de diferentes sociedades.

Na Grécia Antiga, as sereias eram criaturas perigosas, cujo canto sedutor levava os marinheiros à ruína nas rochas. Na tradição nórdica, havia as “havfruer”, seres aquáticos que simbolizavam tanto a beleza quanto o perigo dos mares e rios. Nas mitologias asiáticas, encontramos figuras como a Ningyo no Japão, mais parecida com peixe do que com humano, que carrega um simbolismo de azar ou fortuna, dependendo da história. Em algumas culturas africanas, a Mami Wata está associada à riqueza, beleza e à cura e até hoje é cultuada em alguns lugares. Essas variações refletem não apenas diferentes aspectos do elemento água – como sua capacidade de sustentar a vida e seu potencial destrutivo – mas também exploram temas universais de sedução, transformação e o desconhecido.

Entre as lendas amazônicas a figura de Iara, também conhecida como Mãe-d’Água, representando uma conexão com este universo de crenças. A sereia dos rios é uma personagem repleta de mistério e encanto, conhecida por atrair pescadores e viajantes com seu canto melodioso. Na tradição oral da região, Iara é frequentemente descrita como uma mulher-peixe de beleza inigualável e com uma voz capaz de encantar de maneira irresistível. Aquele que ouve seu cantar mágico é atraído até sua presença, ignorando o risco que corre. Então a vítima do encantamento sonoro vai parar no mundo das águas, onde se afoga ou fica num estado imutável de transe.

Os indígenas possuíam suas crenças em criaturas ferozes das águas, seres perigosos e similares a cobras, como o monstrengo Ipupiara, que atormentava os tupis e devorava gente. Criatura feminina semelhante que habitava os rios foi descrita entre os indígenas no século 19 como a Mãe-D’Água, uma serpente aquática. E havia ainda a lenda do boto, que era um ser marinho que virava homem que seduzia as moças.

A sereia amazônica pode ser assim uma elaboração que exemplifica como as culturas se entrelaçam e evoluem, absorvendo e reinterpretando mitos e crenças de diferentes origens para criar narrativas únicas e ricas em significado cultural. Deste modo, elementos da lenda de Iara trazem aspectos de crenças indígenas, africanas e a clássica criatura meio mulher e meio peixe dos mitos gregos que os colonizadores trouxeram para cá.