Os britânicos chegaram na Índia no começo do século XVII inicialmente motivados por interesses mercantis, mas foram progressivamente explorando as potencialidades lucrativas desta relação e se envolvendo nos assuntos internos da grande nação asiática, consumando o controle em 1757, através da importante vitória sobre as forças indianas na Batalha de Plassey. Daí em diante, o controle do Império Britânico foi sendo fortalecido através da imposição de medidas que restringiam cada vez mais quaisquer reflexos de autonomia da Índia em sua complexa organização territorial.
Uma das formas de intromissão e controle foi implementada através da “Doutrina da Anexação”, política que dava aos ingleses o poder de assumir o controle das regiões indianas que passassem por questões sucessórias incertas. Introduzida em 1848, a medida previa que cabia aos representantes britânicos o papel de assumir o controle sobre os territórios que ficassem sem herdeiro masculino natural, situação considerada vacância de poder que os invasores se consideravam no direito de interferir através da anexação da região ao Império Britânico.
Um dos cenários da implementação desta forma de intervenção dominadora ocorreu no próspero principado de Jhansi, localizado na região norte da Índia. Durante esta crise que tomou o rumo da rebelião contra o domínio britânico destacou-se a marcante figura da rainha guerreira Rani Lakshmibai.
Nascida Manikarnika Tambe, em 1828, a nobre de formação e postura independentes que eram incomuns para uma mulher em sua posição aprendeu manejar espadas e tiro com arco, equitação e outras artes bélicas, além de ter recebido instruções acadêmicas. Depois de se casar aos 14 anos de idade com o marajá Raja Gangadhar Rao Newalkar, adotou o nome Rani Lakshmibai, uma homenagem à deusa hindu Lakshmi. A prodigiosa jovem rainha de Jhansi se envolvia nos assuntos de estado e de administração pública e virou uma pessoa amada pela população por suas qualidades como liderança carismática e justa.
O casal real chegou a ter um filho, mas a criança morreu ao 4 anos de idade, assim resolveram adotar oficialmente o sobrinho Damodar Rao como filho e herdeiro em 1851 diante de um representante britânico e já sob a vigência da políica imperialista de interferência sucessória. Com a morte do marajá, em 1853, os britânicos resolveram desconsiderar a adoção e declararam vago o trono de Jhansi. A rainha tentou fazer com que a sucessão fosse garantida recorrendo aos meios diplomáticos, mas os interventores recusaram sua solicitação. Assim, em 1857, teve início uma reação armada diante da qual a própria Rani Lakshmibai assumiu o papel de liderança.
Durante a movimentação de insurgência, Jhansi chegou a ser sitiada por forças britânicas e os rebeldes comandados pela rainha guerreira resistiram taticamente mesmo em desvantagem numérica. Buscando outra situação de resistência, Rani Lakshmibai partiu do cerco montada em seu cavalo e carregando a criança amarrada em suas costas e conseguiu apoio de outras lideranças e mais rebeldes anti-britânicos da região.
Com as forças reagrupadas, os rebeldes travaram uma sangrenta luta contra os dominadores na Batalha de Gwalior, em junho de 1858, e a rainha, que atuou em ação na frente de combate, acabou morrendo durante o confronto. Ela tinha 29 anos.
Os britânicos venceram, mas Rani Lakshmibai passou a ser celebrada como uma heroína da resistência contra os invasores. O movimento no qual lutou é conhecido como a Primeira Guerra de Independência da Índia.

