Mary Shelley: A jovem mente criadora do clássico “Frankenstein”

(Representação visual gerada pelas IAs DALL-E e Leonardo)

O monstro Frankenstein é um personagem icônico que faz parte de uma obra consagrada como um verdadeiro clássico, pioneira em diversos aspectos e uma das narrativas mais consagradas de todos os tempos. E foi criação de uma jovem de 16 anos, a inglesa Mary Shelley.

Nascida Mary Wollstonecraft Godwin em 1797, ela era filha de um casal de intelectuais. Sua mãe era Mary Wollstonecraft, reconhecida e ousada escritora feminista, e seu pai era o jornalista e filósofo progressista William Godwin. Ela ficou órfã de mãe depois de poucos dias de seu nascimento e passou aos cuidados do pai, que instruiu Mary por conta própria e distante das escolas, possibilitando uma experiência muito distinta daquilo que era comum para a educação de uma mulher na época, sendo incentivada a ler e discutir os clássicos, além de obras literárias e teses científicas de seu tempo. A menina logo revelou ser dotada de talento na escrita, possuindo uma mente aguçada e criativa.

Aos 16 anos a jovem iniciou um relacionamento escandaloso com o polêmico poeta Percy Bysshe Shelley, que era um homem casado. A relação e suas circunstâncias comprometedoras causaram uma série de distúrbios, incluindo o suicídio da esposa de Shelley. Diante de uma situação de claro desconforto perante a sociedade londrina, eles resolveram sair da Inglaterra, fixando moradia na Itália e fazendo viagens por várias partes da Europa, encontrando artistas e pensadores de várias áreas. Durante as jornadas do casal surgiu o primeiro esboço daquela que seria a obra fundamental de Mary Shelley. A ideia surgiu quanto participaram de um desafio literário entre amigos – incluindo o famoso poeta romântico Lord Byron – com a proposta de criar uma história de terror. Mary elaborou sua narrativa inspirada em aspectos científicos envolvendo experimentos com eletricidade, principalmente a técnica conhecida como galvanização, explorada pelos cientistas italianos Luigi Galvani e Giovanni Aldini, além de conter discussões filosóficas sobre a vida e a morte.

A partir da ideia inicial e do conto a escritora resolveu aprimorar sua história para desenvolver um romance, que acabou sendo intitulado “Frankenstein: ou o Prometeu Moderno”. A história, que narra a criação de uma criatura artificial pelo jovem cientista Victor Frankenstein, é uma complexa trama de terror gótico, questionamentos éticos e reflexões filosóficas. O livro foi publicado finalmente em 1818 e provocou imediata curiosidade por seu tema inovador e abordagem inesperada. Na ocasião também ocorreram especulações em torno da autoria, pois a obra foi inicialmente publicada sem atribuição à pessoa que escreveu, situação comum na época para obras escritas por mulheres, que também costumavam usar pseudônimos masculinos para que as editoras aceitassem publicar seus materiais. Somente em 1823, em uma segunda edição, o nome de Mary Shelley foi creditado como autora e estampado na capa do livro depois de muita insistência de sua parte em busca do reconhecimento por seu trabalho como escritora.

Percy Shelley não acompanhou o êxito editorial de sua esposa, pois morreu em 1822 aos 29 anos de idade. O casal teve um filho e Mary, viúva aos 24 anos, assumiu também a atribuição de publicar os escritos de Percy, além de seus próprios textos. Apesar do sucesso de “Frankenstein”, era difícil para uma mulher manter-se através da literatura e ela teve complicações em sua vida financeira persistindo na literatura. Seus romances “O Último Homem” (1826) e “Ledore” (1835) não conseguiram repetir os resultados editoriais de sua obra de estreia e a estas obras somaram-se vários contos e biografias. Mary Shelley morreu em 1851, aos 53 anos, mas seu nome sobreviveu através de sua obra, principalmente da história do monstro atormentado que recebeu incontáveis adaptações textuais, teatrais e cinematográficas, sendo um dos romances mais influentes de todos os tempos.