José de Anchieta nasceu em San Cristóbal de La Laguna, na ilha de Tenerife, nas Ilhas Canárias, possessão da Espanha, em 1534. Ele era filho de uma família espanhola, mas foi educado em Portugal, sendo formado pela Universidade de Coimbra. Durante sua formação aderiu à Companhia de Jesus, tornando-se um missionário jesuíta em 1551, decidindo em seguida encarar o desafiador trabalho de expandir o cristianismo católico entre a população nativa da colônia portuguesa na América, o Brasil.
Os jesuítas assumiram um papel relevante no contexto inicial da colonização das Américas, pois enquanto a Europa atravessava profundas transformações com a Reforma Protestante, a ordem jesuítica, fundada por Inácio de Loyola em 1540, surgiu como uma força da Contrarreforma, buscando reafirmar a fé católica e combater o protestantismo. A evangelização nas Américas, parte dessa estratégia global, era vista como uma oportunidade para a Igreja estender sua doutrina a novas populações e territórios. Este esforço missionário tinha múltiplos objetivos: além de buscar novos fiéis, visava também consolidar o poder e a influência da Igreja Católica em territórios recém-descobertos, muitos dos quais estavam sob controle de nações católicas, como Espanha e Portugal. Os jesuítas se estabeleceram como missionários, educadores e intermediários entre os colonizadores europeus e as populações indígenas. A presença jesuítica também esteve intrinsecamente ligada aos processos de dominação colonial, contribuindo para a transformação e, em muitos casos, a erosão das culturas indígenas, apesar de conflitos com nativos resistentes e com colonizadores que pretendiam escravizar os indígenas que viviam nas missões jesuítas.
Diante deste contexto complexo, Anchieta chegou ao Brasil em 1553, desembarcando na Capitania de São Vicente, atual estado de São Paulo, numa época em que o Brasil colonial estava em seus primeiros estágios de desenvolvimento. Ele era um jovem de apenas 19 anos por ocasião de sua chegada e conseguiu se adaptar às duras condições da vida na colônia ainda incipiente, com desafios como doenças tropicais, escassez de recursos e isolamento. Ele buscou aprender sobre a linguagem e hábitos dos nativos, percebendo que este conhecimento seria valioso para proporcionar seu objetivo como promotor da fé católica através de uma abordagem minuciosa estratégia de conversão baseada na educação e transmissão do credo religioso e moral do colonizador. Ele também se envolveu na fundação de colégios e instituições religiosas, incluindo o Colégio de São Paulo de Piratininga, que viria a ser o núcleo da cidade de São Paulo.
Em seu sofisticado trabalho de catequese, Anchieta escreveu várias obras em tupi, incluindo peças de teatro e poemas, que utilizava como ferramentas de evangelização, adaptando as histórias e mensagens às perspectivas e ao entendimento dos povos nativos. O padre muitas vezes se encontrava no meio de disputas entre os colonos portugueses e os povos nativos, tentando mediar e resolver conflitos e também teve de lidar com a desconfiança e a resistência de alguns membros das comunidades indígenas, que viam na catequização uma ameaça às suas tradições e modo de vida.
Após décadas de incansável trabalho missionário, Anchieta se retirou para o colégio de Reritiba, hoje conhecido como Anchieta, no Espírito Santo, onde continuou a escrever e a ensinar até falecer em meados de 1597. Conhecido como “Apóstolo do Brasil”, Anchieta foi canonizado em 2014 pelo Papa Francisco, sendo reconhecido pela Igreja Católica como santo.
A canonização de José de Anchieta, bem como a atuação jesuítica na colonização do Brasil, tem sido alvo de críticas e reavaliações históricas. Pois, apesar das presumíveis intenções benevolentes, a missão jesuítica foi parte de um processo colonial mais amplo que resultou na supressão de culturas nativas e na imposição de valores e crenças europeias.

