Anna da Rússia: As intrigas de uma imperatriz impopular

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

Anna Ivanovna foi czarina da Rússia de 1730 até 1740 e construiu uma reputação horrível, o que não era também nenhuma novidade em se tratando da tradição dos ocupantes do trono russo. Ela era filha de Ivan V, que tinha problemas mentais e por isso tinha seu irmão mais novo, Pedro, o Grande, como corregente que efetivamente cuidava do governo até assumir o trono sozinho depois da morte do irmão mais velho. Quarta filha de seu pai, Anna chegou ao trono como uma herdeira improvável depois de uma conturbada situação sucessória desde a morte de seu tio. Apesar de sua linhagem real, antes de ascender ao trono Anna era uma figura de pouca expressão e vivia em condições dependentes de subsídios controlados para se manter. Chegou a casar ainda jovem com sobrinho do rei prussiano, mas o marido beberrão morreu após pouco mais de três meses de casamento, fazendo que que ela perdesse uma aliança política importante.

Anna foi coroada sob condições limitantes impostas pelo Supremo Conselho Privado da Rússia, situação que fazia da monarca uma governante de poucos poderes, mas a imperatriz conseguiu aliados poderosos quem e deram um jeito de se livrar desta condição, assim ela acabou assumindo o poder com a plenitude do tradicional absolutismo autoritário czarista. Mesmo assim, apesar de deter formalmente o poder institucionalizado, ela tinha não interesse pelas rotinas burocráticas e políticas do exercício do governo, deixando as questões essenciais a cargo de seu amante Ernst Johann Biron e de aliados próximos. Enquanto isso ela se dedicava aos gastos com luxos, passeios, caçadas e práticas de tiro com armas de fogo, um hobby que gostava de exercer. Apesar de seu caso com o conde Biron, que era um homem casado e com quem pode ter tido um filho que o amante e sua esposa criaram como se fosse legitimamente do casal, a czarina teve outros relacionamentos paralelos, mas preferiu não voltar a se casar.

Ela não era uma figura carismática, pois era grosseira e tratava de maneira humilhante e degradante até membros da nobreza. Parentes que poderiam ser viáveis substitutos eram perseguidos ou destituídos de suas posições, a exemplo do príncipe Mikhail Alekseevich Golitsyn, a quem ela rebaixou à função de bobo da corte, impôs que se ele se casasse com uma criada e passasse a núpcias em um insalubre castelo feito de gelo que mandou construir. Sua rival mais notória – e que poderia ter sido designada imperatriz em seu lugar – era a princesa Elizabeth Petrovna, dotada de extrema beleza, cordialidade e carisma que faltava à czarina, então Anna tratou de sabotar e arruinar a parente, que tinha até todas as pretensões de casamento negadas pela imperatriz, que se empenhou em isolar Elizabeth para que ela não pudesse se articular com eventuais apoiadores.

Seus encarregados pelo exercício do governo tomaram decisões como intervir sobre a Polônia, desencadeando uma guerra de grandes custos financeiros e humanos com resultados insignificantes. Também ocorreu a Guerra Russo-Turca, outro conflito relevante de poucos resultados efetivos, investidas que influenciaram aumentos dos impostos e o descontentamento público, que era grande. O governo instituiu sua polícia secreta para identificar e deter opositores, implantando perseguições e aplicando medidas violentas para reprimir as críticas e tentativas de reação.

A relação de dependência de Anna por Biron permitiu que o conde agisse por conta própria sem consultar czarina, sobretudo quando ela começou a sentir a debilidade causada por seus problemas de saúde. Visando prolongar sua permanência no poder, Biron convenceu a imperatriz a nomear o bebê Ivan VI, sobrinho-neto de Anna, como sucessor – medida que afastava as pretensões da prima Elizabeth Petrovna, que teria posição mais evidente na sucessão. Quando Anna morreu em 1740, aos 47 anos, a sucessão conforme os planos feitos em seus últimos momentos de reinado acabaram fracassando, pois sua adversária Elizabeth conseguiu reunir apoios ao seu redor direcionou um golpe que a conduziu finalmente ao poder.

O impopular reinado de Anna Ivanovna entrou para a posteridade estigmatizado pela própria rejeição à figura da imperatriz.