Hélène Jégado, a Cozinheira do Inferno

(Representação visual gerada pela IA Mage)

Hélène Jégado (1803–1851) nasceu no meio camponês na cidade de Plouhinec, na região francesa da Bretanha, e teve uma infância difícil, ficando órfã aos sete anos e indo parar sob os cuidados de duas tias, que trabalhavam como criadas. Aprendeu os afazeres do serviço doméstico e começou a trabalhar como cozinheira e governanta, mas o comportamento que ela ocultava foi um grande problema por onde Hélène passou, pois a serviçal doméstica tinha o hábito de adicionar ingredientes perigosos em suas receitas. A mulher foi uma serial killer envenenadora que utilizava sua profissão como disfarce, temperando as refeições com morte e sofrimento.

Logo em seu primeiro emprego, Hélène chegou a ser flagrada colocando sementes de cânhamo na sopa do patrão, que era padre na cidade de Bubry. Como o sacerdote não morreu, e aparentemente ninguém desconfiou de suas intenções, ela foi demitida e até conseguiu outros empregos depois do incidente. No entanto, em 1833, outro patrão, também padre, acabou morrendo em circunstâncias nitidamente decorrentes de envenenamento. Mas a situação era ainda pior porque além do clérigo outras seis pessoas de sua família que viviam com ele ou frequentavam a sua casa também morreram num período de três meses. A cozinheira tinha outros talentos além de seus dotes culinários e de seu tempero mortal, pois era capaz de provocar a consternação de qualquer pessoa diante se sua falsa e dramática demonstração de tristeza diante das mortes.

Hélène se dedicou depois disso aos cuidados de pessoas enfermas, mas as três que estavam sob sua atenção também morreram, incluindo a própria tia. Nenhuma suspeita recaiu sobre ela, afinal, doentes são passíveis de não conseguirem sobreviver em decorrência das condições que os afetam. Como ela não tinha dificuldades de conseguir empregos, logo estava a serviço de uma senhora em Locminé, porém ela e sua filha morreram enquanto a cozinheira estava com elas. Nos empregos seguintes, mais pessoas caíam mortas ou ficavam muito doentes quando provavam das refeições preparadas por Hélène Jégado.

Até 1841 ela passou por vários empregos, sempre deixando um rastro de mortos sob seus serviços, que não poupavam nem crianças de suas receitas fatais. Ela deu uma pausa de pelo menos dez anos na matança, embora sua reputação tenha sofrido afetação por outras razões, pois a cozinheira foi pega praticando pequenos furtos domésticos, proferindo maledicências e sacrilégios quando estava a serviço de religiosos.

Depois de várias demissões Hélène Jégado voltou a matar em 1851, quando trabalhava em Rennes. Dessa vez sua habilidade de disfarçar fingindo tristeza não era a mesma e assim que a polícia chegou à casa do patrão, o respeitado advogado e professor universitário Théophile Bidard, a mulher prontamente foi declarando estranhamente que era inocente mesmo sem ter sido acusada de nada. Diante da suspeita, médicos atestaram que a causa da morte do homem foi a ingestão de antimônio. Dessa vez a cozinheira foi detida. Foi verificado que uma outra empregada da casa também havia morrido em condições semelhantes antes do patrão, o que reforçava a situação de desconfiança a respeito de Hélène. Finalmente as autoridades fizeram um levantamento a respeito da trajetória profissional da serviçal, identificando um sombrio rastro de mortes por onde ela passou, apontando as suspeita por pelo menos 36 casos de envenenamentos criminosos, além de diversas tentativas de assassinados correspondentes aos sobreviventes do consumo das doses de veneno.

Como a maioria dos crimes ocorreram uma década antes, ela conseguiu se livrar da implicação pela maioria deles por causa da prescrição dos atos conforme a lei, mas o que foi possível provar a respeito dos últimos crimes acabou sendo suficiente para justificar a sentença de morte. Hélène Jégado foi executada em 26 de fevereiro de 1852 na guilhotina.