Olaudah Equiano, também conhecido posteriormente como Gustavus Vassa, é o autor do livro considerado como um dos primeiros registros do gênero de narrativa de escravos, autobiografia na qual trata da escravidão envolvendo os traumas e absurdos da exploração através de sua experiência e testemunho. O livro “A Interessante Narrativa da Vida de Olaudah Equiano ou Gustavus Vassa, o Africano” serviu como meio para difusão do movimento abolicionista, luta que passou a fazer parte de sua trajetória como ativista.
Conforme escreveu Equiano, ele nasceu em 1745 na província de Eboe, na Nigéria contemporânea. Era o filho caçula de sete filhos e desde cedo iniciou os preparativos para se tornar um guerreiro de seu povo, praticando exercícios diários de tiro e arremesso de lanças. Aos 11 anos de idade foi raptado por negociantes de escravos enquanto estava brincando nos arredores da aldeia acompanhado por uma irmã, sendo levados para longe da região onde viviam. Depois disso, sem saber mais da irmã, ele foi aprisionado em um navio negreiro que partiu com destino à América. O ambiente era tenebroso e lá ele ficou doente e fraco pelo cheiro insuportável da higiene precária e pela escassez de ar e comida, condição que matou muitos no decorrer da travessia. Ele testemunhou a brutalidade e abuso sofridos pelos escravos nas mãos dos tripulantes do navio e descreveu os gritos das mulheres e os gemidos dos moribundos como um cenário de horror inimaginável, chegando a imaginar que tinha entrado em um mundo de maus espíritos onde seria morto. Ao chegar à costa ficou ainda algum tempo no convés do navio aguardando seu destino, sofrendo e testemunhando atos de violência contra os negros que eram desembarcados e finalmente tomar destino para a plantação na qual teve sua primeira experiência como escravo, inicialmente trabalhando na preparação do solo.
Ao longo dos anos como cativo, Equiano passou pelo domínio de vários proprietários, viveu em muitas localidades nos EUA e trabalhou em diversos tipos de serviços. Ele menciona que foi trabalhador rural, carregador de cargas e serviçal em embarcações, entre outras tarefas que desempenhou. Em todo local onde trabalhou teve a infeliz oportunidade de ver o tratamento cruel dado aos escravos, relatando métodos punitivos que eram empregados e também confirmando a ocorrência comum dos abusos sexuais sofridos pelas mulheres escravizadas, além de ter presenciado casos de assassinatos frios praticados pelos dominadores escravistas. Equiano sentiu-se profundamente perturbado e horrorizado com a violência que testemunhou e chegou a sofrer na pele o tratamento violento, pois também recebeu castigos injustos.
Ele começou a trabalhar como escravo em embarcações como remador, mas também como atuou como marujo e mordomo de capitão. Foi como cativo náutico que um capitão resolveu chamá-lo de Gustavus Vassa, o que seria uma homenagem ao rei sueco do século XVI. Ele acabou trabalhando em variados navios, situação que aprimorou sua vivência com as atividades de comércio, pois ele lidava com carregamento, armazenamento e distribuição de mercadorias. Trabalhando em navios ele realizou várias viagens, aprendeu a praticar o comércio realizando vendas de copos de vidro e bebidas. Nesta fase ele conseguiu até ser alfabetizado em inglês. Através das pequenas transações de vendas e com o serviço de refinamento de vinhos que começou a fazer paralelamente ele conseguiu juntar algum dinheiro e com a ajuda de um capitão de navio com quem trabalhou conseguiu negociar e pagar por sua alforria em 1766.
Ele já havia sido batizado como cristão desde 1759 e como um homem livre buscou se integrar continuando sua lida em atividades de navegação e comércio, participando de muitas expedições mercantis e acumulando ainda mais experiência até conseguir se estabelecer como comerciante na Inglaterra depois de viajar bastante. Sua vida pregressa como escravo não o deixou esquecer da situação dos cativos explorados das mais diversas formas e também passou a se interessar pela causa abolicionista, estabelecendo contatos com ativistas e políticos contrários à escravidão. Ele procurou o influente líder abolicionista Granville Sharp para informar sobre o incidente conhecido como “O Massacre de Zong” (1781), circunstância em que dezenas de escravos foram jogados no mar durante o transporte no navio negreiro como se fossem carga dispensável, iniciando discussões, repercussão pública e embate judicial que contribuíram para a conscientização a respeito da necessidade humanitária de acabar com o tráfico atlântico de escravos. Sua autobiografia, publicada pela primeira vez em 1789, era abordada como testemunho vívido da degradação humanitária representada pela escravidão e tornou-se leitura importante para a sensibilização sobre a causa, que Equiano difundia nas ocasiões em que se dirigia ao público.
Olaudah Equiano constituiu família, casou-se em 1792 e teve duas filhas, mas ficou viúvo um anos antes de também morrer, em 1797, aos 52 anos de idade. Ele não conseguiu testemunhar a lei britânica de 1807 que iniciou a erradicação do tráfico atlântico de escravos.


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