Nicolau de Mira, o santo católico que inspirou o Papai Noel

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

À medida que crescemos, a mágica do Natal vai se transformando. Crianças esperam ansiosamente pelo Papai Noel, aquela figura barriguda alegre de barba branca, que desafia todas as leis da física e da lógica para entregar presentes em uma única noite, é quase um super-herói para nós. Mas, como em um passe de mágica (ou seria da realidade?), vamos crescendo e começamos a perceber as sutilezas da vida. O encanto do bom velhinho começa a se desfazer como neve ao sol e então, um dia, a revelação: Papai Noel não existe. Assim, o encanto do Natal não se perde, apenas se transforma, enquanto vamos convivendo com um símbolo natalino que aparece em campanhas publicitárias, decorações, filmes de fim de ano e vivenciado por gente usando aquela fantasia icônica. Papai Noel não existe, mas quem teria existido foi Nicolau de Mira, religioso católico que inspirou o personagem.

Há quem diga de Nicolau foi um monge ou que foi um bispo nascido no século IV na região de Lícia, atual Turquia. De origens abastadas, a vida de rico não lhe interessava e ele preferiu a simplicidade e a vida religiosa, o que levou o homem a viajar para lugares como a Palestina em busca de aprimoramento de sua fé. Dizem que Nicolau chegou a ser perseguido e torturado quando o imperador romano Diocleciano ainda reprimia cristãos e que ganhou a liberdade sob o governo do imperador convertido Constantino. Posteriormente, Nicolau participou do Concílio ne Nicéia, em 325, um dos mais definidores eventos da história da fundamentação do cristianismo.

Nicolau era reconhecido como uma pessoa caridosa e desapegada de bens, tendo doado sua fortuna ao longo dos anos. Ele morreu por volta de 343. Durante a Idade Média sua boa fama inspirou respeito, fiéis passaram a render homenagens e o religioso passou a ser reconhecido inicialmente como protetor e padroeiro dos marinheiros. Suas relíquias estão desde o século XI na Basílica de San Nicola, em Bari, Itália.

O bispo Nicolau acabou virando figura importante no imaginário popular e religioso quando narrativas sobre sua bondade se espalharam e com elas surgiram também alegações de atos milagrosos atribuídos em favor de crianças. São Nicolau foi canonizado em 1446 pelo Papa Eugênio IV.

Sua popularidade devocional foi abalada durante a Reforma Protestante, mas a posteriormente, mesmo em meio aos protestantes, a figura de Sinterklaas, surgida entre holandeses e belgas, passou a reviver a inspiração de Nicolau. Era um homem de barba e cabelos brancos que andava vestido de bispo montado em seu cavalo voador. Sinterklaas conhecia todas as crianças e sabia se eram comportadas. Ele distribuía biscoitos e presentes na Noite de São Nicolau (6 de dezembro) secretamente através de chaminés, escondendo em sapatos e meias os brindes para as boas crianças, uma notória referência à generosidade de Nicolau. O costume se difundiu, che3gou ao Novo Mundo através de colonos holandeses estabelecidos em Nova York, e sofreu adaptações ao longo dos tempos dos dois lados do Atlântico. A data da festividade que passou a coincidir com o Natal e através de narrativas, representações cênicas e visuais incorporadas através de longos anos, o Sinterklaas acabou progredindo para o Papai Noel que conhecemos no presente e o santo foi desaparecendo na tradição renovada, sendo substituído por um ser mágico e risonho que encanta crianças e o marketing natalino.