O francês René Descartes (1596-1650) foi um dos gigantes do pensamento ocidental. Ele nasceu na pequena La Haye en Touraine, que hoje é conhecida como Descartes em sua homenagem. Ele era filho um respeitado conselheiro no Parlamento da Bretanha e ficou órfão de mãe ainda bebê, passando aos cuidados da avó durante sua infância. Desde cedo, mostrou-se um jovem frágil e doente, o que talvez tenha influenciado sua vida introspectiva e voltada para o pensamento. Descartes teve sua formação em instituições de forte influência católica recebeu instruções de caráter religioso, mas também conheceu com profundidade os saberes de filosofia, matemática, ciências e línguas clássicas. Desenvolveu uma forte base intelectual com sólido fundamento em lógica e teologia, mas também ao mesmo tempo dotado de um espírito de questionamento e busca por conhecimento além dos ensinamentos tradicionais.
Após concluir sua educação formal, Descartes optou por uma trajetória pouco convencional para um homem de sua formação e classe. Ele ingressou no serviço militar em 1618, servindo inicialmente no exército holandês durante a Guerra dos Trinta Anos. Essa experiência, embora breve, foi significativa para Descartes, não tanto por suas ações em batalha, mas mais pelas oportunidades que teve de viajar, conhecer novas pessoas e ideias. Após deixar o exército, ele dedicou-se a uma vida de estudo e reflexão, viajando por diferentes países da Europa. A partir da década de 1620, ele se dedicou intensamente ao estudo e à escrita, abordando temas que iam da filosofia à matemática, passando pela física e pela fisiologia.
Descartes é frequentemente lembrado por ter lançado as bases do pensamento racionalista moderno com sua obra “Discurso do Método”, publicada em 1637, onde defendia a necessidade de dúvida sistemática e o uso da razão como fundamento do conhecimento. Esta obra também introduziu o importante conceito da divisão do plano em um sistema de coordenadas, essencial para o desenvolvimento da geometria analítica. Suas “Meditações Metafísicas”, publicadas em 1641, são outro marco, abordando questões de existência, a natureza da realidade e a existência de Deus. Além de suas contribuições filosóficas, Descartes realizou pesquisas significativas em áreas como óptica e biologia, incluindo a formulação da lei dos senos na óptica e investigações pioneiras sobre o funcionamento do coração e do sistema nervoso. Apesar de sua abordagem por vezes conflitar com as ideias aceitas na época, especialmente as da Igreja, Descartes manteve um diálogo cauteloso com as autoridades religiosas, procurando evitar a censura. Seu legado intelectual perdura, sendo uma figura central na transição do pensamento medieval para o moderno. Embora algumas de suas teorias científicas tenham sido posteriormente superadas, seu método e abordagem analítica continuam relevantes. Descartes, assim, não só moldou diversas disciplinas durante sua vida, mas também estabeleceu um legado que continua a influenciar a ciência, a filosofia e a matemática até os dias de hoje.
A vida pessoal e familiar de Descartes é muito menos documentada do que suas realizações intelectuais. Ele nunca se casou nem teve uma família no sentido tradicional, mas teve uma filha, Francine, com Helena Jans van der Strom, uma empregada doméstica na Holanda. Sua filha faleceu aos cinco anos de idade devido à febre escarlatina, um evento que, segundo relatos, afetou profundamente Descartes, que era conhecido por seu estilo de vida recluso e nômade, preferindo a solidão para o desenvolvimento de suas ideias e teorias. Ele mantinha correspondências com filósofos, cientistas e matemáticos, mas era reservado quanto à sua vida privada. Essa inclinação à privacidade, somada à sua postura cautelosa em relação às autoridades religiosas e acadêmicas, faz com que muitos aspectos de sua vida pessoal permaneçam envoltos em mistério.
Descartes morreu na Suécia em 1650, longe de sua terra natal, após ser convidado pela Rainha Cristina para ser seu tutor filosófico, deixando um legado intelectual vasto, mas uma vida pessoal relativamente obscura.


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