Manuel Blanco Romasanta, o lobisomem espanhol

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Quando certas ações praticadas por pessoas reais eram hediondas suas comunidades cogitavam que foram realizadas por entidades sobrenaturais e misteriosas, pois figuras monstruosas desempenham um papel fundamental na representação dos medos humanos e na capacidade de realizar atos brutais. O choque e a repulsa que tais atos provocam podem servir como um mecanismo de distanciamento, separando a sociedade daqueles indivíduos e seus atos inaceitáveis. O serial killer espanhol Manuel Blanco Romasanta (1809-1863) é um desses casos em que a monstruosidade parece servir como forma de entender a extremidade de suas ações e não por acaso o matador acabou sendo conhecido como “O Lobisomem de Allariz”.

Nascido na cidade de Esgos, Romasanta teve seus primeiros anos de vida marcados por peculiaridades. Ele enfrentou condições que limitaram seu desenvolvimento físico e parou de crescer quando atingiu apenas 1,37m de altura e, além disso, achavam que ele era uma menina até que finalmente perceberam nele a formação do que seria um micropênis. Somente aos 8 anos de idade ser registro de nascimento foi alterado passou a constar o nome Manuel, pois até então ele se chamava Manuela. Sua condição pode ser considerada um caso de intersexo, o que consiste numa variedade de situações em que uma pessoa nasce com características sexuais que não se encaixam nas típicas noções binárias de corpos masculinos ou femininos.

Manuel recebeu instrução, era assíduo frequentador da igreja, era considerado uma pessoa dócil, aprendeu o ofício da alfaiataria e chegou a casar, mas sua esposa morreu em 1833. Daí em diante, resolveu levar uma vida sem vínculos e passou a trabalhar como caixeiro-viajante. Percorrendo regiões da Espanha e de Portugal sozinho como comerciante itinerante, acabou em 1844 implicado pelo assassinato de um homem que lhe cobrava uma dívida comercial, mas fugiu e passou a viver de forma clandestina em Allariz, na Galiza, sob uma identidade falsa. Ele iniciou sua nova vida social na região, voltou a trabalhar com tecidos e aparentava ser um trabalhador acima de qualquer suspeita, mas nesta fase ele iniciou uma verdadeira escalada homicida.

Trabalhando num segmento predominantemente feminino, Romasanta conhecia muitas mulheres da comunidade, era comunicativo com elas e ficava atento aos seus planos, então ele passou a observar aquelas que estavam prestes a sair da cidade em busca de melhores oportunidades em outros lugares. Em 1846 fez suas primeiras vítimas, que foram Manuela García Blanco e sua filha, uma menina de apenas 6 anos de idade. A mulher planejava conseguir um emprego fora da Galiza e Romasanta fingiu que iria ajudar na viagem e na indicação para um serviço em virtude de sua experiência e contatos comerciais quando chegassem ao destino e assim viajou acompanhando as duas, mas elas nunca chegaram a qualquer outro lugar a não ser em algum ponto remoto no qual foram assassinadas. Voltando para casa, Romasanta difundiu notícias falsas de que Manuela e sua filha estavam devidamente instaladas e sua pretensa disponibilidade para ajudar acabou iludindo outras mulheres que caíram na armadilha macabra do assassino, incluindo a irmã de Manuela e seu filho. Ele escrevia cartas falsas como se fossem das mulheres, recurso para despistar e evitar suspeitas, e continuou nos cinco anos seguintes repetindo a mesma prática ardilosa até que enfim as desconfianças começaram a ser inevitáveis, pois ele foi flagrado vendendo pertences das vítimas. Os rumores a respeito dos feitos de Romasanta passaram se espalhar chegaram até a alegar que ele produzia os sabões que vendia em seu estabelecimento a partir da gordura dos corpos das mulheres e crianças que matava.

Depois de investigações e denúncias, o criminoso foi preso em 1852. Romasanta confessou a prática de 12 assassinatos, mas usou uma alegação que alardeou ainda mais a situação, pois ele disse que tinha uma doença incomum que fazia como que ele se transformasse em um lobo e que matou todas essas pessoas enquanto estava na forma desta besta monstruosa e que não tinha nem consciência nem lembranças das práticas dos homicídios. As notícias sobre o homem-lobo assassino foram além da Espanha e o caso virou uma estarrecedora curiosidade ao ponto de influenciar o destino do serial killer, pois a própria rainha Isabel II resolveu comutar a pena de morte imposta pela decisão judicial, modificando sua sentença para a prisão perpétua, pois isso permitiria que estudiosos pudessem desvendar a alegada licantropia e revelar aspectos sobre a doentia sua mente doentia a as condições de Manuel Blanco Romasanta, que acabou morrendo provavelmente em decorrência de um câncer em 1863.

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