Po’pay, da tribo Ohkay Owingeh, foi um líder religioso e curandeiro dos indígenas Pueblo que liderou um grande movimento desencadeado pelos nativos contra o domínio colonial. Em 1676, ele foi preso pelas autoridades espanholas junto com outros nativos sob diversas acusações, sobretudo de “bruxaria”, por desobediência e alguns homicídios. Todos sofreram castigos físicos e alguns dos prisioneiros foram executados, enquanto os que ainda estavam vivos foram aprisionados em Santa Fé. O administrador colonial Juan Francisco Trevino concordou com a libertação dos prisioneiros como sinal de trégua e Po’pay foi solto, mas não desistiu de planejar sua próxima ação, pois estava convencido de que os antigos espíritos exigiam isso.
Os Pueblos já vinham sofrendo com os espanhóis desde a chegada dos invasores na região do Novo México. Os indígenas foram dominados e submetidos ao trabalho escravo, vendo sua terra ser gradativamente tomada pelos forasteiros, mas o sentimento de revolta superava a desvantagem bélica e vários indígenas ousavam reagir, incluindo Po’pay. A partir de 1598, a dominação espanhola também se impôs por meio da obrigatoriedade de conversão ao cristianismo, e missionários católicos começaram a destruir os locais e objetos sagrados dos Pueblo. Aqueles que recusavam renegar suas tradições ancestrais eram severamente punidos com açoites, mutilações e até com a vida pelo ato de desobediência. Os pacíficos Pueblos já haviam tentado realizar revoltas coletivas sem sucesso e, diante das reações dos dominadores, os homens sagrados como Po’pay eram especialmente castigados como aviso para os demais.
Depois de ser solto, Po’pay começou a mobilizar os Pueblos para uma nova tentativa de retomada de suas terras. Foram quatro anos de planejamento e conspiração em segredo através de vastas regiões onde se espalhavam diversas aldeias Pueblos. Sem acesso a cavalos, proibidos pelos espanhóis, os mensageiros de Po’pay caminharam para espalhar para outros líderes o plano de rebelião, que finalmente começou a ser executado em 10 de agosto de 1680, quando indígenas invadiram Santa Fé e realizaram um ataque devastador, ocasião em que cerca de 500 habitantes do centro colonial espanhol foram mortos e com o posterior cerco, muitos outros se renderam e partiram.
Com a vitória, Po’pay iniciou outra etapa de seu meticuloso planejamento, começando o processo de restabelecimento das tradições de seu povo. Templos católicos foram destruídos, batismos anulados, casamentos católicos destituídos e as práticas religiosas ancestrais retomadas. Po’pay manteve-se no poder de forma despótica por mais 8 anos até sua morte em 1688. Depois disso, foi difícil manter a autonomia das terras Pueblo, pois eram cada vez maiores as divergências internas entre as lideranças tribais, além de desgastes pelos confrontos com outros povos indígenas que invadiam a região e até o clima estava desfavorável, com uma seca intensa afetando a subsistência do povo. Este cenário favoreceu a retomada dos espanhóis em 1692.
A revolta dos Pueblos liderada por Po’pay é reconhecida como a primeira “revolução americana”, sendo o primeiro ato rebelde massivo e bem-sucedido contra a dominação colonial.

