Quando os holandeses iniciaram a colônia de Nova Amsterdã, na atual ilha de Manhattan, em Nova York, introduziram por lá também a exploração de escravos, com a qual se familiarizaram muito bem durante o domínio no nordeste brasileiro. Primeiramente, levaram homens para realizar os trabalhos de construção e, em seguida, em 1627, chegaram à colônia as primeiras mulheres escravas para os serviços domésticos, entre elas estava Reytory, identificada nos registros como Dorothy Angola ou Dorothy Creole. As mulheres escravas também tinham a função de casar com os homens escravizados que já estavam na colônia, para aumentar a população de escravos; assim, Dorothy uniu-se a Paulo Angola, que chegara lá na primeira leva de cativos. Eles adotaram uma criança, formaram uma família e seguiram trabalhando na condição de escravos da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.
Em 1644, Paulo fez parte de um grupo de escravos veteranos que solicitou a libertação, a qual foi aceita, embora condicional, pois estava vinculada à obrigação de pagamento de uma taxa anual à companhia, e o descumprimento dessa regra implicava no retorno ao status de escravizados. Conforme o acordo, as esposas dos solicitantes também receberiam o benefício da libertação nas mesmas condições impostas aos maridos, mas os filhos permaneceriam escravos. Após essa mudança, o casal foi morar em uma área conhecida como “Terra dos Negros”, composta por pequenas propriedades rurais onde viviam e trabalhavam libertos e libertos condicionais. Paulo morreu em 1662, enquanto Dorothy estava grávida, deixando a viúva em uma situação difícil, já que sua liberdade condicional estava atrelada à de Paulo. Para evitar ser novamente escravizada e garantir a liberdade de seu filho, ela casou-se imediatamente depois com o liberto Emmanuel Pietersz e o tornou administrador da propriedade rural que construíra ao lado do primeiro marido. Em seguida, conseguiu obter a libertação de seu filho adotivo e, aparentemente, tudo estava indo bem.
A situação de vida de Dorothy e dos demais moradores da Terra dos Negros mudou quando os ingleses assumiram o controle da colônia, que passou a ser chamada Nova York, em substituição a Nova Amsterdã. A legislação inglesa diferia das regras administradas pelos holandeses, mas Dorothy resolveu lutar pelas condições conquistadas por sua comunidade e, com habilidade e articulação, as propriedades daqueles que já viveram sob a escravidão seguiram resistindo, mesmo diante das constantes ameaças sobre os moradores deste foco de resistência e autonomia, encravado em uma sociedade escravista. A habilidosa Dorothy, que falava sua língua nativa, português ou espanhol, holandês e inglês, continuou vivendo nas fronteiras entre a escravidão e a liberdade, ilustrando a vulnerabilidade da população negra naquele contexto.
A comunidade foi finalmente derrotada em 1712, mas Dorothy não presenciou esse desfecho.


[…] Luta e sobrevivência da população negra na cidade de Nova York colonial […]