A firme influência liberal de Adam Smith

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Adam Smith nasceu em 1723 em Kirkcaldy, uma pequena cidade costeira na Escócia, filho de Margaret Douglas e do também Adam Smith, um escriturário e fiscal de alfândegas. Sua infância foi marcada pela prematura morte de seu pai, o que o deixou sob os cuidados de sua mãe, que desempenhou um papel significativo na sua formação. Smith demonstrou precocidade acadêmica, frequentando a Burgh School de Kirkcaldy, onde impressionou com suas habilidades em latim, matemática e história. Em 1737, aos catorze anos, ele foi para a Universidade de Glasgow para estudar filosofia moral, sendo aluno de Francis Hutcheson, um filósofo cujas ideias sobre liberdade individual e ética natural teriam uma influência duradoura no pensamento de Smith. A excelência acadêmica de Smith em Glasgow lhe rendeu uma bolsa para o Balliol College, em Oxford, onde ele continuou seus estudos a partir de 1740. A experiência em Oxford, embora menos intelectualmente estimulante do que Glasgow, contribuiu para ampliar seu escopo de leituras e conhecimentos, pavimentando o caminho para suas futuras obras filosóficas e econômicas.

Após concluir sua educação em Oxford, Adam Smith retornou à Escócia e, em 1748, começou a dar aulas em Edimburgo sob os auspícios de Lord Kames. Essas palestras abrangiam uma variedade de temas, desde retórica e belas-artes até jurisprudência e economia, refletindo o amplo espectro de seus interesses intelectuais e preparando o terreno para suas futuras obras. Essa série de palestras notáveis começou a cimentar sua reputação como um erudito astuto e um orador público persuasivo. Em 1751, ele foi eleito professor de lógica na Universidade de Glasgow e, no ano seguinte, transferiu-se para a cadeira de filosofia moral, onde ensinou uma variedade de assuntos, incluindo ética, retórica e jurisprudência, governo e economia. Essa posição na Universidade de Glasgow foi particularmente influente no desenvolvimento de suas ideias, permitindo que ele refinasse os conceitos que eventualmente compartilharia com o mundo em suas obras posteriores. Durante seu tempo como acadêmico, Smith também participou de clubes intelectuais e manteve um intercâmbio vigoroso de ideias com muitos dos principais pensadores de sua época.

Publicada em 1759, “A Teoria dos Sentimentos Morais” foi a primeira grande obra de Adam Smith e estabeleceu sua reputação como filósofo moral de destaque. Nesta obra, Smith propõe uma teoria psicológica da moralidade baseada na ideia de simpatia, argumentando que a capacidade humana de se identificar com os sentimentos dos outros é a base do comportamento ético. Ele explora como os seres humanos julgam as ações próprias e alheias com base em uma capacidade inata de compartilhar emoções, e como isso forma os padrões de moralidade social. Smith descreve o “espectador imparcial” — uma consciência interna que nos guia em nossas ações e julgamentos —, sublinhando o princípio da empatia como um regulador intrínseco do comportamento social e fonte de virtude moral. A obra desafia o pensamento contemporâneo ao sugerir que a moralidade é derivada não de razões religiosas ou absolutas, mas de sentimentos e relações sociais. Ela pavimentou o caminho para o seu posterior trabalho em economia, ao mesmo tempo que oferecia uma visão robusta da natureza e dos mecanismos da conduta humana, tornando-se um texto fundamental no campo da ética e da filosofia moral.

“A Riqueza das Nações”, plenamente intitulada “Uma Investigação sobre a Natureza e Causas da Riqueza das Nações”, é a magnum opus de Adam Smith e uma das obras mais influentes na formação da economia como ciência. Publicada em 1776, a obra é uma extensa dissecção dos processos econômicos e industriais da época, argumentando a favor de um sistema de livre mercado guiado pelo que Smith chamou de “mão invisível”. Neste sistema, as forças do mercado seriam capazes de se auto-regular, promovendo a eficiência e a riqueza através da divisão do trabalho e da acumulação de capital. Smith criticou as políticas mercantilistas e defendeu a ideia de que a verdadeira riqueza de uma nação não se encontrava em seus estoques de ouro e prata, mas sim na capacidade de produção e no comércio. Através de exemplos pragmáticos e uma argumentação rigorosa, Smith delineou os princípios fundamentais da economia de mercado, influenciando as políticas econômicas ocidentais dos séculos seguintes e estabelecendo a base para o capitalismo clássico. “A Riqueza das Nações” não é apenas um tratado econômico, mas também um documento histórico que reflete o Iluminismo e o início da Revolução Industrial, destacando-se até hoje como um dos textos mais significativos no estudo da economia e da história econômica.

Nos últimos anos de sua vida, Adam Smith gozou da estima e do respeito de seus contemporâneos como um intelectual influente, tanto em círculos acadêmicos quanto entre o público em geral. Após a publicação de “A Riqueza das Nações” em 1776, Smith alcançou uma notoriedade significativa e seu trabalho começou a ter um impacto profundo, estabelecendo-o como uma autoridade central em assuntos econômicos. Embora tenha se retirado da vida acadêmica, ele não cessou seu trabalho intelectual. Smith dedicou parte de seus últimos anos a revisar suas obras anteriores e a expandir suas ideias, embora algumas dessas revisões e novos trabalhos, como um abrangente tratado sobre sistemas de jurisprudência, nunca tenham sido completados ou publicados. Sua saúde começou a deteriorar, e ele foi acometido por uma série de doenças que eventualmente levaram a sua morte em 1790. Antes de falecer, Smith tomou a cautelosa decisão de queimar grande parte de seus manuscritos e notas inéditos, preferindo deixar para a posteridade apenas aquelas obras que considerava terminadas e dignas de sua reputação.

A obra de Adam Smith teve uma influência definidora na economia e na filosofia, estabelecendo fundamentos que continuam a ser pedras angulares dessas disciplinas séculos após sua morte. “A Riqueza das Nações”, em particular, é frequentemente citada como o catalisador que deu origem à economia como uma ciência independente e delineou os princípios do liberalismo econômico, antecipando e moldando o capitalismo moderno. Suas ideias sobre a divisão do trabalho, a acumulação de capital e a “mão invisível” que regula os mercados foram fundamentais para o desenvolvimento das teorias de mercado livre que dominam muitas políticas econômicas contemporâneas. O legado de Smith é percebido não apenas nos campos acadêmicos, mas também na forma como as nações estruturam suas economias e empresas conduzem seus negócios. Seu trabalho continua a ser um ponto de referência obrigatório para economistas, filósofos, políticos e profissionais, evidenciando a duradoura relevância de suas visões sobre a natureza humana e as sociedades mercantis.