Laura Maria Caterina Bassi nasceu em Bolonha, Itália, em 1711. De uma rica família burguesa, quando criança teve sua genialidade percebida e, então, um avançado processo educacional foi providenciado para potencializar sua inteligência natural.

Aos 5 anos, passou a ter aulas particulares com o padre Lorenzo Stegani, que proporcionou à sua aprendiz uma sólida base em matemática e latim. Aos 13, passou para a supervisão do médico e acadêmico Gaetano Tacconi. Durante essa tutoria, os interesses de Laura se revelaram inesgotáveis e ela estudou profundamente idiomas, anatomia, história natural, lógica, metafísica, filosofia, química, hidráulica, mecânica, álgebra e geometria.

A fama da jovem erudita se espalhou pelos círculos intelectuais de Bolonha, e então cientistas passaram a visitar Laura para testar seus conhecimentos e saíam de lá impressionados. Um dos maiores entusiastas da capacidade da jovem cientista era o cardeal Prospero Lambertini, um influente membro da elite da Igreja Católica que valorizava a ciência.

Ela conseguiu a distinção de ser admitida na Academia de Ciências de Bolonha, sendo a primeira mulher a integrar a prestigiosa sociedade. Em 1732, obteve o grau de doutora em filosofia e, no mesmo ano, conseguiu ser aprovada para assumir um posto de pesquisadora na importante universidade da cidade. Apesar de sua fama como “Minerva Bolonhesa”, era proibido que mulheres pudessem lecionar na universidade, então sua atividade se restringia a proferir palestras e realizar experimentos. Neste período, surgiu o fascínio da cientista pelo trabalho de Isaac Newton, que a fez explorar aplicações de suas teorias no campo da óptica. Ela foi uma das introdutoras da física newtoniana na Itália.

Casou-se com Giuseppe Veratti, médico e professor da Universidade de Bolonha, e conseguiu conciliar suas atividades científicas com a vida doméstica e os cuidados com os nove filhos que nasceram dessa união. Enquanto continuava suas pesquisas, insistia em postular o direito de exercer o cargo de professora, pedido que frequentemente era negado. Nem quando seu admirador e protetor, Prospero Lambertini, foi consagrado como Papa Bento XIV, suas reivindicações eram atendidas pela universidade, e ela continuava sofrendo com as restrições impostas pelo domínio institucional masculino.

Ela passou a realizar veementes declarações a respeito das desigualdades entre homens e mulheres, reivindicando que o direito à instrução deveria ser assegurado para que meninas pudessem ter acesso aos conhecimentos científicos e prosperar intelectualmente assim como ela. Apesar de ter um cargo relevante na universidade, seu marido atuava como seu assistente no trabalho experimental que passaram a desempenhar sobre aplicações da eletricidade na medicina e mesmo que Laura tivesse uma produtiva carreira como pesquisadora experimental, apenas em 1776 ela obteve a permissão formal para lecionar na universidade, apesar de ainda assim em condições restritivas, já que a maior parte de suas aulas necessariamente deveriam ser privadas. Apesar disso, o feito de sua nomeação significou muito, pois assim ela passou a ser a primeira mulher a ser designada, em caráter oficial, para uma cátedra de física em uma universidade.

Mesmo com todo o êxito, as limitações impostas a Laura em sua carreira também prejudicaram sua produção escrita, já que ela não teve acesso aos meios para possibilitar a publicação de suas teses e sua árdua luta pelo direito de exercer a função de professora na universidade acabou sendo muito mais longa do que sua atuação efetiva na função, pois ela morreu repentinamente de um ataque cardíaco em 20 de fevereiro de 1778, aos 66 anos de idade.

Pioneira, cientista, mãe e educadora, Bassi não apenas quebrou barreiras em sua própria época, mas também pavimentou o caminho para futuras gerações de mulheres na academia. Sua persistência e realizações, apesar das adversidades, continuam a inspirar e a servir de exemplo da importância de se lutar pela igualdade de direitos e oportunidades para todos, independentemente de gênero.