Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido pelo apelido de Tiradentes, nasceu no Fazenda do Pombal, próximo ao arraial de Santa Rita do Rio Abaixo, em 12 de novembro de 1746. Ele é amplamente reconhecido na história brasileira como mártir da Inconfidência Mineira e herói nacional.
Desde jovem, Tiradentes demonstrou uma aptidão para várias profissões. Trabalhou como dentista prático (origem de seu apelido), tropeiro, minerador e até mesmo como oficial da tropa de dragões da Coroa Portuguesa. Contudo, foi sua atuação como ativista político que ficou marcado como vulto de nossa história.
Na segunda metade do século XVIII, o Brasil, ainda uma colônia de Portugal, experimentava agitações políticas devido ao excessivo controle e taxação por parte da metrópole. Especificamente em Minas Gerais, a descoberta de ouro atraiu a cobiça da Coroa, resultando em pesados impostos. Com a ameaça da “derrama” – uma cobrança compulsória de dívidas tributárias – cresceu a insatisfação entre a elite colonial.
Influenciado por ideias iluministas e pelo contexto da Revolução Americana, Tiradentes juntou-se a um grupo de intelectuais e influentes da região, como Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa, para planejar uma revolta contra o domínio português e seus abusos. Esse movimento ficaria conhecido como Inconfidência Mineira também discutia propostas para formação de uma república baseada em princípios liberais, contudo tinha posições ambíguas a respeito da escravidão.
Antes que o plano de ação dos inconfidentes pudesse ser concretizado, a conspiração foi traída e denunciada por Joaquim Silvério dos Reis, um de seus integrantes que estava endividado com a Coroa e decidiu denunciar a conspiração em troca de perdão de suas dívidas. Armado com essa informação, o governador Visconde de Barbacena agiu rapidamente para desmantelar o movimento. Tiradentes, que se encontrava no Rio de Janeiro tentando angariar mais apoio à causa, foi preso em 10 de maio de 1789. Durante os interrogatórios subsequentes, Tiradentes assumiu grande parte da responsabilidade pelo movimento, em uma tentativa de proteger seus companheiros.
Ele permaneceu encarcerado por quase três anos e durante o julgamento, foi o único sentenciado à pena de morte, enquanto outros conspiradores receberam penas mais brandas, como o exílio na África. Em 21 de abril de 1792, Tiradentes foi enforcado e esquartejado, com partes de seu corpo sendo expostas em diferentes pontos da estrada que ligava Rio de Janeiro a Minas Gerais, como aviso aos que ousassem se rebelar contra a Coroa.
A vida pessoal de Joaquim José da Silva Xavier é menos documentada do que seu papel na Inconfidência Mineira. Em relação à sua vida familiar, há registros de que nunca se casou formalmente, mas teve uma relação estável com Antônia do Espírito Santo, com quem teve filhos.
A elevação de Tiradentes à condição de herói nacional ocorreu décadas após sua execução, em um contexto de transformações políticas no Brasil. Durante o período imperial, especialmente durante o Segundo Reinado, houve um movimento de busca por figuras que pudessem simbolizar a luta pela independência e a identidade nacional. No contexto da Proclamação da República em 1889, a figura de Tiradentes foi resgatada e reinterpretada como mártir da liberdade e da república, contrastando com sua imagem anteriormente vilipendiada pela Coroa Portuguesa. Esse processo de reabilitação envolveu a promoção de sua imagem em livros, obras de arte e discursos políticos. O 21 de abril, data de sua execução, foi instituído como feriado nacional, consolidando Tiradentes como símbolo máximo do espírito republicano e, curiosamente, sendo representante de um movimento que sequer eclodiu, diferentemente de outros levantes favoráveis à independência do Brasil que se manifestaram através de confrontos sangrentos. Seu nome é o primeiro na relação de honra do Livro de Aço dos Heróis e Heroínas da Pátria.

