Miyamoto Musashi (1584?-1645), um dos samurais mais famosos e habilidosos de todos os tempos, não teve sua notoriedade construída apenas através da participação em memoráveis batalhas, embora tenha participado de algumas e esteve no lado derrotado na mais importante delas, a Batalha de Sekigahara (1600), evento que viabilizou o domínio do shogunato Tokugawa. Por outro lado, foi o duelista mais reconhecido do Japão.
Nascido na província de Harima, era filho de um samurai, Shinmen Munisai, que tinha sua espada a serviço do Castelo Takeyama. Musashi começou a receber ensinamentos de artes marciais e manejo da espada com seu pai como mestre e, já aos 13 anos, participou e venceu seu primeiro duelo contra o samurai Arima Kihei, matando implacavelmente o oponente. O jovem lutador continuou provocando ou aceitando desafios até fazer parte da guerra que culminou com a ascensão de Tokugawa Ieyasu como Shogun e o início do Período Edo (1603-1868). Depois de sua experiência no lado perdedor na guerra, tornou-se um rōnin, guerreiro sem mestre ou bandeira. Viajou pelo Japão duelando contra guerreiros reconhecidos e vencendo cada um deles. Costumava empregar a técnica que desenvolveu, o nitō ichi-ryū, estilo de esgrima que utilizava duas espadas. Até completar 30 anos de idade, teria participado de 60 duelos, inclusive confrontos até a morte, vencendo todos. Seu último duelo foi contra Sasaki Kojirō, espadachim reconhecido como o melhor do Japão. Musashi decidiu provar que era superior ao famoso oponente recorrendo a um método diferente; assim, esculpiu uma espada de madeira a partir do remo do barco que usou para chegar ao local do duelo. O confronto foi breve, e Musashi venceu aplicando um golpe da espada de madeira na cabeça de Kojirō, que morreu instantaneamente. Após essa disputa, decidiu que não fazia mais sentido continuar como duelista.
Musashi prosseguiu sua vida como um Musha Shugyo, guerreiro peregrino, colocando sua espada à disposição de senhores e chefes de clãs. Também prestou serviços como conselheiro estrategista e admitiu alguns alunos para ensinar esgrima. Em 1637, chegou a lutar na condição de guerreiro, enfrentando rebeldes na Revolução Shimabara, revolta desencadeada por japoneses católicos que resultou na proibição das atividades cristãs.
Dedicou-se também a atividades mais amenas, como pintura, escultura e caligrafia. Foi praticante e estudioso do budismo, além de filósofo. Escreveu obras sobre técnicas de esgrima e, em seu renomado Livro dos Cinco Anéis, Musashi não só avalia estratégias e ações na luta, mas também apresenta ensinamentos para a vida.
Abdicando de honras e até da vida familiar e conjugal, passou seus últimos anos recluso como um eremita na caverna Reigandō. Dizem que sentiu que estava próximo da morte e, por isso, apressou-se em escrever o Livro dos Cinco Anéis como um legado de sua existência. O guerreiro faleceu pacificamente, consciente do momento exato de sua partida, tendo se preparado especialmente para aquele instante guiado por seus instintos e sensibilidade.


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