A importante cidade grega de Atenas estabeleceu uma sociedade altamente excludente, na qual a concessão da cidadania dependia das origens, impedindo estrangeiros (chamados lá de metecos) de exercerem direitos. A filósofa Aspásia (470-410/400 a.C.) é um exemplo disso. Originária de Mileto (na atual Turquia), ela teve de enfrentar as limitações dessa condição e, ao mesmo tempo, as adversidades de ser mulher em um meio patriarcal e enfrentar descontentamento de poderosos por suas ideias e postura.
De origem aristocrática em Mileto, Aspásia recebeu, desde cedo, uma educação refinada. Chegou a Atenas por volta dos 20 anos. Sua inteligência, eloquência e postura independente rapidamente chamaram a atenção. Há especulações de que ela tenha trabalhado como hetera, uma cortesã de luxo que se relacionava com homens influentes em troca de favores, e que mais tarde tenha gerido seu próprio bordel, oferecendo um ambiente sofisticado. No entanto, isso pode ser fruto de difamações da época. É sabido que ela manteve um salão onde ensinava mulheres e que posteriormente atraiu a presença masculina, incluindo a do jovem Sócrates, com quem, especula-se, teve um relacionamento.
Aos 25 anos, decidiu viver com Perícles, herói de guerra e governador de Atenas. A despeito de Perícles ser casado com uma mulher ateniense e ser bem mais velho que ela, o casal não escondeu o relacionamento. Perícles chegou a instituir em Atenas uma lei que proibia o casamento entre cidadãos atenienses e mulheres estrangeiras, declarando ilegítimos os filhos dessa união. Esse relacionamento público de Perícles e Aspásia alimentou polêmicas e gerou difamações, inclusive acusações de prostituição. Algumas pessoas acreditavam que a influência de Aspásia sobre ele era tão grande que lhe atribuíam muitos de seus discursos inflamados, afirmando que ela lhe ensinou a arte da eloquência.
O casal teve um filho, que recebeu o nome do pai, que se tornou herdeiro de Péricles após a morte dos filhos do primeiro casamento deste. Com a morte de Péricles, em 429 a.C., depois de mais de quinze anos de relação, Aspásia casou-se com Lísico. No entanto, esse matrimônio foi breve, pois ele morreu em batalha em 428 a.C. Nada se sabe sobre Aspásia após esse período. Seu filho, Péricles, que foi reconhecido como cidadão por decreto e chegou a ser general, mas foi executado pelos atenienses em 406 a.C. por não ter recolhido os corpos de seus soldados após uma batalha. Ela possivelmente viveu a tempo para ter esta triste experiência.
Aspásia foi citada, direta ou indiretamente, por diversos filósofos e escritores da época, incluindo Sócrates e Platão, reconhecendo sua importância como pensadora e sua habilidade em eloquência e retórica, além de seu papel no desenvolvimento de técnicas argumentativas. Seus detratores também alegavam que muitas decisões de Péricles eram influenciadas por ela, incluindo decisões bélicas. O legado que se tem dela é o de uma mulher proeminente em uma sociedade dominada por homens.

